Por Mirinaldo
1ª REFLEXÃO
O PIOR POLÍTICO É O ELEITOR. Como assim? Vi uma postagem em que alguém questionava candidatos, de modo geral, com perguntas como: “Qual sua formação acadêmica?”, “Já atuou na política?”, “Conhece as atribuições do cargo a que concorre?”, “Tem projetos para educação, saúde, segurança etc.?”, “Sabe interpretar leis?”, “Sabe propor leis?”. Perguntas fortes, hein? Chegou com moral! Mas, e se elas fossem feitas ao eleitor? Vamos tentar entender. Infelizmente, o maldito espírito colonizador nos atormenta até hoje e deve nos perturbar por décadas, graças aos... políticos e... ao povo!. Aqui na nossa nação tupiniquim é forte o antagonismo políticos vesus...povo! Os políticos são a constante encarnação dos portugueses de 1500, dos senhores de engenho, dos coronéis, dos capitalistas das revoluções industriais, dos cafeicultores, dos grandes ruralistas, dos banqueiros e por aí vai. Nossos olhos só conseguem ver políticos relacionados ao poder econômico (e com muito dinheiro!). Tanto que quando um trabalhador se candidata a um cargo, ele já sai do comitê perdendo a eleição (Não tem dinheiro! Não adianta, não tem apoio dos empresários! Não sabe falar! Quer ganhar pra ficar rico! Coitado, pensa que é grande coisa!). Já o povo é visto como a parte que tem a honra de trabalhar no pesado, que não tem ambições e que só deve pensar no amanhã como “acordar cedo”, que é humilde e despretensiosa, que sabe o valor do dinheiro e que elege pessoas para cuidar do país, dos estados e das cidades: os políticos! O povo é a parte que se contenta, que não precisa de muito, que espera que tudo se resolva e, para isso, apoia-se no seu padrinho político. Quem não tem padrinho caça com gato. A solução das grandes questões do país ficou com... os políticos! Por isso, desde aquele desembarque maldito de 1500 até hoje com o nosso presidente genocida, os políticos são tidos como seres sobrenaturais, inteligentes, abastados, sagrados (os imperadores romanos eram pintados com auréola atrás da cabeça igual a Jesus Cristo!), cortejados e recebidos como um messias que vai chegar e resolver tudo! Pois bem, agora questiono: Quem precisa de formação? Quem paga por tudo isso e vive tudo ao contrário? Quando se fala do papel de um vereador, por exemplo, todo mundo diz: fiscalizar, legislar etc., mas quando se fala do povo: votar. Parece que os políticos de carreira sabem o que têm que fazer (embora não façam), enquanto o povo não conhece o seu papel e, por isso, joga tudo para os caras de paletó (e gravata!). Sempre é um bom momento para que a população compreenda o que é mesmo ser povo. E deve começar a fazer isso além das urnas, pois esse papel secular de “eleitor empoderado que só vale até a palavra FIM da urna com aquela musiquinha que parece o plim plim da Globo” está se tornando uma grande palhaçada.
2ª REFLEXÃO
POLÍTICA E RELIGIÃO: ÁGUA E AÇÚCAR. Muitos dizem que política e religião não devem se misturar. Que pena, isso é só uma utopia ou uma falácia das mais grosseiras. Sempre, absolutamente sempre ambas se coadunaram e realizaram ações manipuladoras em que o povo estagnou numa posição social apenas: a inferior. Um filósofo de araque que vive nos Estados Unidos, mas interfere no lamaçal político do Brasil atual, afirmou em um documentário que não há nada mais poderoso que a política em lugar nenhum da Terra. Lamentavelmente ele está certo. A religião tornou-se um opiário e o Estado sempre se vale isso. As religiões só se completam nos espaços políticos, pois é neles que elas materializam de fato o sentido da palavra “poder”. Falar de Deus na política não é problema algum, pois nas religiões acontece a mesma coisa e com o mesmo efeito: nada. É só para falar mesmo. Pessoas ficam estarrecidas quando um candidato ou mesmo uma autoridade invoca o nome do Criador nos atos terrenos. Fique calmo, Deus também é invocado em gritos ocos, em situações de êxtase e euforias nas mais diversas igrejas com o fim de o “louvar” ali e somente ali, mas que depois tudo volta ao normal e todos entram na fila da obediência política, pagam (ou sonegam) seus impostos, negociam cargos, influências, detonam opositores, reproduzem conflitos de classe, subjugam os desfavorecidos e nada fazem pela elevação social das minorias. E segue o rigor da teia sócio-política a amarrar todos sob as ideologias forjadas do Estado para a manutenção da segregação social, a verdadeira alegria do Diabo. A elevação espiritual é similar à elevação política. Por isso, chefes de igrejas (e não líderes) precisam se “politizar” nem que, para isso, se emporcalhem nos dejetos das ações do alto poder financeiro. A ideia de justiça social adotada pelo Estado aparece com outro nome nas religiões: vida em Cristo. Isso parece bom, mas tem uma ideologia escrachada aí, pois a vida em Cristo é tão dolorosa que o peito em que se bata um coração arde só de imaginar o quanto não seria rentável abdicar-se dos bens criados pelos capitalistas. Entre querer manter o que se tem e seguir a Cristo está o inferno. Quantos entregariam tudo para viver em total humildade carnal e espiritual? Então, para não se sucumbir à dor da pobreza, marca fiel do Evangelho, vende-se a pregação da plenitude terrena, ou seja, há que se simular o paraíso aqui, navegar na zona de conforto e projetar-se como seres elevados ante os outros, os fracos e desprovidos de Deus. Como Deus não dá riquezas terrenas, os homens “santos” dissimulam que tudo o que têm foi dado pelo Senhor. Pura mentira, o que eles têm foi fruto do que conseguiram nas tramas traçadas pelo Estado, seja pelo trabalho, seja pela facilitação nas negociatas e das corrupções que esse mesmo Estado oferece para ter seus fiéis. A vida plena (boa casa, conta no banco, plano de saúde, viagens, status etc.) por ser uma ação terrena só pode ser dada com a permissão do Estado. Embora alguns digam que é com esforço e sonho que se consegue as coisas e que nunca se deve deixar de sonhar, a realidade é que tudo o que cada um tem é o que o Estado deixou que tivesse. Jesus já deixou logo claro que isso pertence ao Estado (a César). Mas quem quer sofrer aqui? Todos querem ser ricos! Os bens materiais são tão irresistíveis que passaram a ser sagrados e abençoados pelos donos das igrejas. Eles, os caciques dos templos, sabem que Deus só permite que todos tenham a mesma porção do que é produzido – o chamado, mas agora demonizado, comunismo -, tanto que Jesus repartiu o pão como forma de comunhão com ele (e ninguém comeu mais que o outro). Que poder os chefes religiosos vão poder demonstrar num sistema em que todos seriam iguais? Que graça existe, dentro do sistema capitalista, todos parecerem irmãos? Resposta: nada. Então, religião e política caminham juntas, há séculos, para a formação do Estado, o senhor dos senhores, o que suga os grandes lucros dos pobres e distribui a alguns que serão selecionados de acordo com o quanto conseguem manipular os mais fracos e fazê-los pensar que estão sendo protegidos. E nada melhor que a religião para compor o banquete das cenas que compõem as imagens da elevação social, o agora sinal de que Deus está colocando o dedo dele no lado podre da humanidade. E viva o grande evangelho (com “e” minúsculo) escrito pelo capitalismo!
3ª REFLEXÃO
HOMENS E MULHERES SÃO IGUALMENTE POLÍTICOS. MAS... Muito se diz: “É a vez da mulher na política!”, “A mulher precisa ocupar o seu espaço na política”. São frases corretíssimas, mas podemos estar falando de números e não de papéis sócio-políticos. Sabe-se que o número de ocupantes de cargos políticos, há séculos, é, em sua maioria esmagadora, formado por homens. Por conta disso, a política é uma palavra feminina, mas com práticas machistas. Nas igrejas também se percebe a forte presença masculina, assim como nas profissões e em grande parte das atividades sociais. Até nos salários há a diferença, os homens ganham mais que elas. Claro que isso se trata de uma grande injustiça, pois tudo se deve à política de homens, feita por homens e pensada para os homens. A política é masculina, com tudo que ela se tornou e é. E geralmente imaginamos coisas ruins sobre ela, como corrupção, fracasso, desigualdade, regalia dos ricos, desvios, falcatruas e por aí vai. Enfim, parece que a política não está resolvendo nossos problemas. E não está mesmo. Mas não está porque ela já tem seu mapa, sua estrutura, suas estratégias e suas finalidades, ou seja, não se está entrando para a política para mudá-la, mas para ser moldado pelo que ela é. A política é, assim por dizer, uma máquina que tem todo o seu funcionamento voltado para manter poderosos no poder eternamente e sempre congelar o sistema de pobreza como elevação dos ricos e submissão dos pobres. O voto ainda é uma grande ilusão de ascensão social, de que as mazelas serão eliminadas. Tudo isso de ruim tem sido associado aos homens. A mulher não tem tido tanta culpa na execução desse lamaçal, nesse caso, crê-se que ela, atuando no campo político, faria o inverso e proporia, graças ainda ao seu dom natural, uma renovação na política. E ela tem adentrado e ocupado grandes cargos políticos, não chegando exatamente a grande número, mas todos os cargos que antes só foram dos homens já foram ocupados pelas mulheres. Mas alguns, principalmente os negacionistas, poderiam questionar por que, então, ainda não houve a mudança tão esperada na política? Por que ainda há a fome, a miséria, o analfabetismo e os péssimos atendimentos nos serviços públicos? Por que ainda existe corrupção? As mulheres seriam corruptas se houvesse uma inversão de ordem numérica, ou seja, se fossem elas a maioria e não os homens na política? Para responder a essa questão, temos que questionar: e os homens? São todos corruptos e imprestáveis na política? Não. Claro que não. Mas numericamente eles são poucos e suas vozes não têm eco nas grandes mídias, é como se nem existissem, pois a eles não é dado poder de grande expressão. Então, suponhamos que houvesse uma paridade entre homens e mulheres, cinquenta por cento para cada em todas as esferas políticas, a política seria melhor? Há duas respostas. A primeira é que, se se considerar a política como está agora, a resposta é não, ou seja, as mulheres não mudariam a política e fariam o que já vem acontecendo com muitas atualmente: absorveriam o modus operandi dos homens. Olhem para a Bolívia, lá foi uma mulher que deu o golpe em Evo Morales, comandado pelos EUA, assim como no Brasil os homens deram um golpe em Dilma, lendo a mesma carta americana. Haveria, então, uma assimilação das mulheres das formas horrendas da política machista que aí está. Elas seriam machistas. Agora, sobre a segunda resposta, teríamos que considerar outro cenário em que a política fosse diferente, fosse voltada ao bem comum, aos pobres, ao meio ambiente, ao ser integral. Não precisaria nem haver paridade entre os sexos, as mulheres, sim, fariam uma grande diferença e viveríamos muito melhor. Mas alguém já poderia me questionar: então as mulheres teriam que esperar os homens fazerem essa mudança para elas entrarem para a política, ou seja, elas ficariam submissas a eles até esse momento? Não, os homens não vão fazer isso acontecer, porque eles deram vida própria à política, à máquina como eu disse. As mulheres precisam, mais do que nunca, tomar a vanguarda desse papel, pois elas ainda não foram todas contaminadas pela prática nefasta da política. São elas que estão em todos os espaços e precisam qualificar, dar bom conteúdo ao pouco número de sua representatividade até que se chegue à forma numérica justa. A bandeira feminista, a única com capacidade para a luta, precisa agregar novas causas. Os homens não deram conta (por que não querem) da eliminação da pobreza, por exemplo. Não basta dizer “a mulher na política”, é preciso dizer “a política sobre a mulher”, subvertendo a ordem e a estrutura impactante dessa prática fracassada. Enquanto as mulheres que entrarem para a política adotarem as mesmas práticas que os homens, o papel delas será apenas pelo viés da quantidade. Deve-se quebrar a supremacia atual e avançar no embate ao grande retrocesso atual à luta das mulheres: o bolsonarismo, a praga que levou algumas delas a serem nada subversivas ao poder e agora praticam os mesmos vícios da quadrilha de Bolsonaro. A fala delas é a mesma deles. Mas se a deles está errada, então elas estão erradas também. Não se trata de substituir os homens (o que não seria ruim), mas de remoldar a política, torná-la mais humana e eficiente e isso não se alcança com maior número de mulheres, mas com um maior número de grandes e subversivas mulheres, as realmente feministas, pois não dá de contar com todas as madames, afinal, elas precisam levar seus cãezinhos ao shopping. E que as mulheres e esses alguns homens possam pautar mais temas de boa orientação política para uma conquista gradual do poder e curvar a linha do autoritarismo do grande demônio do momento: o imperialismo americano e seus escravos bolsonaristas.
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