Por Mirinaldo
Já não respira o Santo de Deus
Queda-se um corpo em um madeiro sob a brisa quente
O madeiro da iniquidade humana
Lenha rija com todo o peso da história ardente
Rosto caído em direção à terra infértil
Olhos cerrados para o Sol do mundo vil
Mas abertos para o rosto do Altíssimo
Nenhuma palavra de sapiência mais se ouviu
Ombros fracos sucumbem ao chão da morte
Não caem, pois seguram os braços feridos
Braços com mãos cravadas, retorcidas
Eis o condenado do mundo já sem vida
Eis o indigno de viver nesta terra de almas secas
Fomos nós que lhe furamos as costelas
Fomos nós que embebemos as esponjas
Fomos nós que martelamos os maus pregos
Fomos nós que o coroamos de espinhos
Fomos nós que o bofeteamos
Fomos nós que lhe pusemos tal madeiro
Fomos nós que sorteamos suas vestes
E fomos nós que ali vimos tudo findo
E somos nós, hoje, almas doentes
E somos nós os zumbis que rastejamos
Com vírus consumindo nossas carnes
Nossas carnes de vísceras expostas
Sob as lamas dos senhores das cartolas
Serpenteamos rumo ao jorro de teu sangue
Que ultrajamos lá no monte e dele rimos
Suplicantes de seu bálsamo estamos
Sofrendo com a corona de espinhos
Ignoramos o teu feito, ó Senhor,
O teu feito, grande Deus, é a ciência!
Foram os biltres que a tiraram do teu manto
Quiseram ter poder e a ignoraram
E enriqueceram ao fingirem ser os santos
E agora é a ciência que te chama
Não ouças, Senhor, os ricos lá dos templos
Mas deixa que teu sangue do madeiro
Jorre pelos rios dos cientistas
Homens teus e não os do dinheiro
Pois só tu tens a cura justa e certa
E pisa na morte e em toda besta
Que cada gota de teu sangue pingue forte
Nos recintos da ciência ignorada
E que este silêncio que sentimos
Ante a cruz que ora está prostrada
Instaure a inspiração do amor divino
Com o massacre da corona ultrajada
E possamos então revigorados
Te louvar e constituir uma terra nova
Em que o riso seja a tua vitória
Pois sendo tua
Ela também é nossa
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