terça-feira, 12 de novembro de 2013

Eu, a porta




A chave de mim em mim se perdeu.
Sou agora oculto, fechado aos meus olhos,
Surpreso de nada, medroso de mim.
Um rosto sem forma, uma voz muito rouca,
Uma dor imensa, como caos sou assim.

As coisas do mundo agora enfrento,
Não falo lamento, resolvo no fim,
Se me acho por fora das coisas tão minhas
Agora me sinto fugindo de mim.

O que vejo por fora de onde era eu
Já não me importa, pois
Só vejo a porta sempre trancada
Por ser arrombada por um ato meu.

De dentro as lembranças, tais vãs e faceiras
Me acompanham no frio em que agora me vejo.
Tão fraco bocejo do lado de fora.
Nem minha alma me adora, não tem pena de mim.

Tais frases egocêntricas são fugas amigas
De um ser que se obriga a fingir bom viver.
O mundo é estranho, agora eu me chamo
De um louco mundano a andar e se perder.

Mas perdido não estou. Eu sei onde há porta.
Maluca é a chave que sumiu de mim.
Quando pensei ser estranho
Foi o tal engano
Que arrancou meus planos
E me fez ser assim.

E tal fato estúpido
Que laça os humanos
Também trouxe bônus
E me fez pensar.
Sentei frente à porta,
Agora não torta,
Abri outra porta e entrei para mim.
Fui ladrão de mim mesmo, enganei-me,
Mas agora desejo: tem que ser assim.

Dei lances de olho por todos os lados,
Fiquei preocupado,
Não me via assim.
É estranho o contato
Sem vozes, sem cheiro,
Sem toques, sem meios
De ver-se e não ver.
Mas minha alma humana
Me deu pronta chama
De no escuro eu ver.
E ver tem sentido
De ser a tal coisa que os olhos alcançam.
Tornou-me mais estranho a tal invasão,
Pois ver e então ser só leva à razão.

A primeira ideia seguida dos fatos
Foi um tal retrato que a alma me deu.
Era um pouco confuso, embaçado e difuso,
Mas ele era meu.

E nele eu chorava, a um ponto olhava,
Mas nada de ver.
Chamava por mãe, por pão e por vinho,
Ganhava um pouquinho e voltava a ser.

Não quis mais tal cena.
Achei-a pequena,
Por pouco dizer.
Então dei mais passos
E vi meu espaço:
Eu mesmo a mim.

Minha alma em agonia,
Chorava, sofria, só via abnegação.
E tudo de humano não ocupava meu plano,
Apenas meu sangue eu sabia seguir.

E todos se riam, parece cospiam,
Zombavam de eu ser
Um tal diferente, uma alma inocente,
Sem algum proceder.

Então esta alma, encontrou toda a calma
E se transformou.
O mundo desumano tornou-se banal.
Minha relaxava sendo apenas meu eu.
Formou-se a bolha que eu desejava,
Então esta é a casa de que a chave perdi.

E entendi que abri-la é o meu coração,
Inquieto e quieto achar a ação.
Então eu abriria a porta por dentro.
Mas dentro já estava, fui ladrão de mim mesmo!
Como entrar se está dentro, se há pouco era fora?!

E nisso consiste uma definição,
Uma rara consciência se eu sou eu mesmo.
Todo lado de fora da casa de bolha
É o estranho
Que me forma,
Mas não quero ser.
Enquanto que dentro, sou forte da guerra,
Sou o amparo da terra, onde nada plantei.
Mas o lado de fora, não entende, não sabe
Se eu sou assim.
Assim que me importo, assim que me porto,
No gosto de só ver
O que mora em mim.

(Mirinaldo)

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