terça-feira, 12 de novembro de 2013

O meu dom



 
Pensar é amar.
Sentir é amar.
Mas tudo isso
Nada é se não posso guardar.

Tenho um dom em mim.
Não em minha vida.
Minha vida não tem dom.
Meu dom é ser dentro de mim.
E se nada mais é assim,
Nada mais importa.

Aprendi a prender-me.
Até que é bom.
Pois, prender-se é amar-se,
É manter-se com o dom.

Há uma coisa que aprendi:
A vida só tem uma beleza:
A falsa certeza de ser alguém.
E falsa também é essa tal beleza,
Pois se nada é certeza,
A matéria não convém.

Meu dom é o silêncio.
Único inocente no mundo de ilusões.
“Quem cala consente”,
Quem crê nisso mente,
O silêncio é agente
E muito bem sabe ser.
Pois permite as permutas,
As lutas, as causas puras,
Que ninguém pode entender.

Entender o sentimento,
Em qualquer das dimensões,
Burras são as razões
De quem cogita assim.
O silêncio somente sabe,
Pois consegue isso ver,
É o único visionário
Do que nem pode acontecer.
Eu amo o isolamento,
A matéria do silêncio, pois
Se me afasto tombo
Do falso reto que sou.
Aí morre todo amor
Que o mundo a mim atribui.
E então nada possui
Todo amor que era meu.

Prefiro nada falar
Se meu dom já é calar,
Pura graça de viver.
O mais por acontecer
Me tortura e me desfaz,
Matéria é tudo fugaz,
Para mim isso é não ser.

(Mirinaldo)

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