O mesmo lado do rio
Chateia o rio.
Uma ponte sobre o
rio
Desfaz o rio.
O rio vive um
drama.
O mesmo lado do rio
Faz o rio ver-se
igual e eterno.
Mas o próprio rio
Não se atravessa.
E o rio tem pressa.
Acelera suas águas
Que deleitam em seu
leito,
Mas seu próprio
peito
Não pode mudar.
E segue a agonia
(De querer não ser
rio?)
E manda o frio
Aos homens da
terra.
E estes a guerra
Devolvem ao rio.
De um lado do rio
Está um inimigo;
Do outro lado,
Mais inimigo.
E vem o perigo
De o rio não ser
rio.
E mesmo o frio
Que manda aos
homens
Não lhes tira
Os horrores
Das almas afins.
É triste o destino
De um rio raso e
fino,
Jogado menino,
Precisa sair.
Estar do outro lado
Atrai novidade,
Sagacidade, vontade
de ter
Um novo destino,
Não ser o menino,
mas ser
Outro alguém,
Ser outro ser.
Daí faz a ponte,
pois pensa em voltar.
Daí o vacilo, não
sabe chegar.
Atravessa o rio,
Só pensa
conquistar.
Então do outro
lado,
O rio já é novo,
Os olhos aos saltos
Parecem pular.
E vêm sensações,
Delírios, farturas,
Até as usuras
Chegam ao lar.
Mas o tempo é sem
ponte,
Sem rio e sem água,
Não vive a esperar.
Atravessar o rio
É só às matérias,
Às formas etérias
Que não sabem
voltar.
E o tempo sem tempo
Muda o lugar.
E o rio já é chato.
O novo lado é
ingrato,
Não sabe o que dar.
E as almas
passantes,
Não sendo tal
antes,
Desejam voltar.
O outro lado do rio
Agora é igual.
Igual prejudica
Os sanos desejos,
Amarga os queijos,
Não dá mais bom ar.
E se pensa que a
margem
Que antes ficou,
É nova, mudou,
Já pode abraçar.
Mas a ponte do
tempo
Mudou-se de rota,
Agora está solta,
Não deixa passar.
Fazer nova ponte,
Mirar o horizonte,
Mandar retornar.
E a história se
segue,
Com água por baixo,
Se seca é riacho,
Então retornar.
Depois se descobre
Que o rio nada
teme,
Não fala, não geme,
Só sabe passar.
O que a filosofia
(A água da ponte)
Pensou antes de
ontem
Não regressará.
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