terça-feira, 12 de novembro de 2013

O outro lado do rio



O mesmo lado do rio
Chateia o rio.
Uma ponte sobre o rio
Desfaz o rio.

O rio vive um drama.

O mesmo lado do rio
Faz o rio ver-se igual e eterno.
Mas o próprio rio
Não se atravessa.
E o rio tem pressa.

Acelera suas águas
Que deleitam em seu leito,
Mas seu próprio peito
Não pode mudar.

E segue a agonia
(De querer não ser rio?)
E manda o frio
Aos homens da terra.
E estes a guerra
Devolvem ao rio.

De um lado do rio
Está um inimigo;
Do outro lado,
Mais inimigo.
E vem o perigo
De o rio não ser rio.

E mesmo o frio
Que manda aos homens
Não lhes tira
Os horrores
Das almas afins.
É triste o destino
De um rio raso e fino,
Jogado menino,
Precisa sair.

Estar do outro lado
Atrai novidade,
Sagacidade, vontade de ter
Um novo destino,
Não ser o menino, mas ser
Outro alguém,
Ser outro ser.

Daí faz a ponte, pois pensa em voltar.
Daí o vacilo, não sabe chegar.
Atravessa o rio,
Só pensa conquistar.

Então do outro lado,
O rio já é novo,
Os olhos aos saltos
Parecem pular.

E vêm sensações,
Delírios, farturas,
Até as usuras
Chegam ao lar.

Mas o tempo é sem ponte,
Sem rio e sem água,
Não vive a esperar.

Atravessar o rio
É só às matérias,
Às formas etérias
Que não sabem voltar.

E o tempo sem tempo
Muda o lugar.
E o rio já é chato.
O novo lado é ingrato,
Não sabe o que dar.

E as almas passantes,
Não sendo tal antes,
Desejam voltar.

O outro lado do rio
Agora é igual.
Igual prejudica
Os sanos desejos,
Amarga os queijos,
Não dá mais bom ar.

E se pensa que a margem
Que antes ficou,
É nova, mudou,
Já pode abraçar.

Mas a ponte do tempo
Mudou-se de rota,
Agora está solta,
Não deixa passar.

Fazer nova ponte,
Mirar o horizonte,
Mandar retornar.

E a história se segue,
Com água por baixo,
Se seca é riacho,
Então retornar.

Depois se descobre
Que o rio nada teme,
Não fala, não geme,
Só sabe passar.

O que a filosofia
(A água da ponte)
Pensou antes de ontem
Não regressará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário