Não amo matéria,
Não amo forma etérea,
Não amo a colmeia,
Mas sugo seu mel.
Não amo poesia,
Não amo a utopia,
Não amo o dia
Que o dia me deu.
Desconheço alguns
passos
Que laçam o amor,
Me perco em
caminhos
Deste ufano senhor.
Maltrato meus anos
Se o quero
entender.
Se abraço seus
braços
Me faço sofrer.
Se envolve em mortalhas,
Se prende nas
galhas,
Faz rir, se
atrapalha,
Pois não sabe
fingir.
Só finge quem ama,
Mais certa é a cama
Onde goza o amor.
Nenhum pranto ele
deixa,
De nada se queixa,
Pois só faz chorar.
Mas isso é engano,
Pois o amor não tem
planos,
Se deixa levar.
O que o faz forte
É um lance de sorte
Chamado razão,
Que sim propõe
força,
Mas é desvairada,
louca,
E perde então.
Pensar é o castigo
De quem pouco ama,
Mas quem tanto ama,
O castigo é amar.
Nem mesmo se
entende,
Mal se compreende,
Nenhum plano ergue,
Nem sai do lugar.
Amar a matéria
É achar-se iludido,
Fraco, comprimido,
Num mundo pagão.
Quem ama a matéria
Sempre é bruto,
Da razão sai
enxuto,
Alimenta a emoção.
A emoção é efêmera,
Mãe do prazer.
Por isso quem ama,
Despreza a matéria,
Articula outra
artéria
E se faz
compreender.
O amor se confunde
Se lançado ao
concreto,
Fica incorreto,
Então deixa de ser.
Aí vêm os tolos,
Chamando-se
amantes,
Somente errantes
É o que passam a
ser.
Manifestam amor
através de matérias,
Até finas flores
julgadas em vão,
Falsas poesias, em
notas tão frias,
Em violas vazias,
Em pregos no chão.
No ego o amor já
está pronto
E mostrado.
É outro engano
Que os pensantes
têm,
Pois o amor não tem
formas,
Não tem endereço
E nem um apreço
A quem o usou.
Mas não é culpado
De tais fantasias,
Se elas são frias,
A matéria assim
fez.
O amor não se forma
De formas-caprichos
Fazer tal desleixo
Não é coisa de
amor.
Um tal gesto ou
delícia
Que se suponha de
amor
É assar toda flor
Que foi oferecida.
É querer dirigir
O que por si já é bastante,
E um ato errante,
É o contrário do
amor.
Ninguém cria o ar,
Mas produz o vento.
É esse contato que
engana
Os errantes.
Não se cria o amor,
Sozinho se faz,
Portanto se apraz
Da forma melhor.
E mais do que isso
É explicar demais,
Pois o amor leva e
traz
O que serve a si.
Entender só amar já
é mui bastante.
Agora filósofo
É andar para trás.
Por isso sou
simples,
Não amo matéria,
Não amo forma etérea,
Não amo a colmeia,
Mas sugo seu mel.
Não amo poesia,
Não amo a utopia,
Não amo o dia
Que o dia me deu.
Só amo a ideia
Que sei que é minha,
Não é erva daninha
Não me dá ilusão.
Só amo o que vem
dela
Que guarda em sua
cela
Até a razão.
Amar a ideia
É ser já liberto,
Seguir o que é
certo,
Que é seu
resultado.
Amar a matéria
É prender-se nela
E ignorar o amor.
E sem o amor,
Tudo se perde,
Mesmo a matéria
Tem novo odor.
Amar a ideia
É ligar as artérias
E prender o amor.
Ser seu dominante
É não ser tão
errante,
Mas dá forma
constante
Ao seu bom
entendimento.
Se bem que entender
Nada tem de
importante,
Pois se tudo é
inconstante
É por causa disso.
Daí que amar é
estar em si mesmo,
Guardar tal segredo
E pro mundo só ser.
O mais é
intrigante,
Não vale a pena,
Não vale um dilema,
Não vale sofrer.
(Mirinaldo)
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