quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Vamos assistir a esse filme?

 


Por Mirinaldo

O governo Bozo fez um corte bilionário na educação. Para quem não perdeu seu voto, isso não é novidade. Mas é assustador mesmo assim. O ditador divulgou a premissa de priorizar a educação básica, mas ela foi atingida em cheio: corte de 2,4 bilhões de reais. Não perderei meu tempo com os acéfalos que comemoram a ideia do quanto pior melhor, pois não sabem o que é melhor nem o que é pior e muito menos são capazes de dimensionar um problema dessa magnitude, afinal, a educação não faz falta aos que nasceram unicamente com instintos e um título de eleitor na mão. Vamos ao que se quer com esse golpe. Há três questões em jogo.

A primeira diz respeito ao que a direita esquizofrênica chama de limpeza ideológica. Em bom português: eliminar o elefante branco da sala. Eu estava brincando: é eliminar o fantasma que assombra o palácio: o socialismo. Detalhe: sem socialismo. A falta justamente de uma educação mais protagonista (temos aí me culpa) levou muitos zeros pensantes a conceber a existência do comunismo e do socialismo no Brasil sem conhecimento de causa, mas o que tem causado um espírito alucinógeno de pseudointelectualismo. Ou seja, quem disser que o PT, o PSOL, o socialismo e o comunismo acabaram com o Brasil está devidamente diplomado. Não entrarei no mérito de discorrer sobre o que é socialismo e comunismo (em outro momento, prometo) e brincar de verdade-desafio sobre o tema. Oxalá tivéssemos um socialismo ou um comunismo (este, que fosse de base cristã de verdade!). Falo sério mesmo! E sem esse diploma de Bozoburrologia. O ataque do ditador às universidades, segundo ele, se justifica pelo fato de essas instituições promoverem o pensamento crítico, reflexivo, científico e filosófico. Tô brincando, ele não falou assim. Ele disse que quer expulsar o pensamento de esquerda. Coisa de quem se aposentou cedo demais, ganha bem e não tem dedicação a estudo algum. Na verdade, esse discurso é a balinha da eleição, lembra que os caras distribuíam balinha para as crianças e elas viam tudo doce? Pois é, enquanto a gente fica bancando o sabidão da direita sobre como se cospe em discurso socialista, o plano segue  adiante. Vamos assistir a esse filme?

Vamos à segunda questão. Ok, enquanto segue o filme dos “Caça-socialistas” (Você se lembra dos Caça-fantasmas?), a segunda questão diz exatamente respeito à falta de projeto do Bozo para a educação do país. Mostre um. Mostre meio. Não, deixe, não perca seu tempo. Não existe projeto do (des)governo para uma caneta sequer. Quando, numa ditadura fria, como a que estamos vivendo agora, o ditador é inerte e despreparado, a ação truculenta é a única saída para ele mostrar que está lá no poder. Mas somente consegue mostrar isso. Não permite ser questionado, contrariado, então despeja seus desmandos como marca de que há um governo ali. Fora isso, teria que ficar como alguém disse certa vez: Se ele não roubar, já vai valer a pena. Nossa, um ladrão parado! A pena do salário mínimo, a pena do desemprego, a pena da submissão aos EUA, a pena da homofobia, a pena da arrogância e vai se soltando a pena por aí. Mas há um detalhe: esta segunda questão ainda não é a finalidade, assim como a primeira, a de caçar socialista alienígena. A primeira e a segunda questão são a parte do palco, são meios. Lá nos bastidores está a real finalidade: privatizar a educação. Bom, vou parar o meu texto. Daí pra frente a questão é a seguinte: se os diplomados no Bozonarismo têm, além de retórica primata, uma boa poupança, então comecem a comemorar. Mas primeiro olhem a poupança! Eu disse a poupança! Porque quando a coisa for realmente implantada, não vai haver bolsa discriminando quem assistiu ao filme “Os Caça-socialistas” nem para quem estava atuando nele. Por isso, todo discurso deve ter uma reserva. Toda atitude, uma ressalva. E todo bolsomínio, uma poupança. Porque quando a educação for de vez para o bolso dos capitalistas, então eu quero ver quem vai nos emprestar uma graninha. O Queiroz eu sei que não é.

 

O brado verdadeiramente retumbante

 


 

Por Mirinaldo

 

E estamos nesta terra desgraçada

Convivendo com a insana humanidade

Sob o julgo dos cristãos – dos falsos santos

E suas porcas morais já ultrajadas

Sob o império do capital americano

Sob a cultura europeia importada

 

Destinados a viver sob os impérios

Dos patrícios malparidos das cartolas

Que de dia escarram santidade

E à noite a vomitar suas falsas glórias

Vão sangrando as virgens e sãs ideias

Deturpando os valores da história

 

Com a cruz de um Senhor justo e santo

Ergueram ao lado a bandeira da soberba

Possuídos de demônios em suas cartas

Encheram suas panças com esta terra

E beberam nosso sangue limpo e puro

E puseram a verdade nas cisternas

 

Na aldeia do apartheid cá estamos

Na cultura inferior que nos legaram

Na prisão da ignorância então cativos

Veias abertas vendo o sangue derramado

Sob o olhar de almas podres ditas grandes

Sob os discursos de amparos sempre errados

 

Nas festinhas maltrapilhas das escolas

Mais fracassos se juntaram às nossas faces

Tantos artefatos e fotos espalhadas

Somos seres de folclores nunca nossos

Tantas flechas tantos arcos nas imagens

Não mostraram a verdade: nossos ossos

 

Os urbanos nas suas castas financeiras

Vivem a pregar, sem saber, o socialismo

Mas matam entre si os comunistas

E no final têm seus corpos ao abismo

É mais forte o que lambe as robustas panças

E os bigodes de abutres ensandecidos

 

É falsa essa nação de almas sujas

Que posta a imagem de selvagens

Mas bebe o sangue deles o quanto pode

Enquanto descarna a verdade

E se riem das crianças índias mortas

Condenadas pelos pais da bestidade

 

 

E toda a história não teve a nossa pena

Só medalhas de defecados imperadores

Nossa sina foi morar sobre a terra

Mas na condição de ela nunca ser mais nossa

Pois nos tornamos brasileiros empossados

Com migalhas e uma corda para a forca

 

E eis que o inferno completamente inconformado

De ainda não ver nossa história consumida

Gestou uma peste apocalíptica

E a tronou como um burro genocida

Com plateia segurando seu escroto

Sonhando com as carcaças: nossas vidas

 

E esse ser, esse Gosma salivar

Com uma bíblia e um quadro de um Deus vivo

Vive a fechar os seus olhos genocidas

Babando orações e as cuspindo

Desejando que os mais ricos bebam sangue

Para logo festejar o genocídio

 

E a maldita história nunca muda

Procriam-se os filhos da desgraça

Fracassados na escola e na ciência

Rompem as glotes nos delírios pelas praças

Em nome de seu credo e do Gosma

 

Quanto à mata de onde saem nossas palavras

São o visto das máquinas e do mercúrio

São o lugar onde os abutres veem sem vida

E comem o ouro e então sorri o capitão doido

Sanguinário da América perdida

Com seus vampiros: almas secas, mãos de arrombo

 

E este dia 19 ninguém conta

Numa pátria onde não se sabe o que são apuros

Se é lutar para manter todas as vidas

Ou se é para salvar todos os vírus

Em que índio só se vê como palavra

Na arcaica aula de substantivo

 

Se o Diabo aqui cravou a má história

Deus Divino e deus Tupã vão ao combate

Se o inferno vai às ruas de amarelo

Nossos índios lutarão ao não empate

Pois como toda história tem um final

Que o Diabo tenha certo o seu abate

 

Tal como a natureza se transforma

Haveremos de chegar à solução

Renovados pelo espírito da Mãe Terra

Esse Gosma cairá com os seus ao chão

E viva os índios desta terra maltratada

Que todo dia têm que vencer o capitão.