Um texto no Facebook chamou minha
atenção ao se reportar ao personagem Téo (ou Théo), da novela Salve Jorge. A
escrita, basicamente, trazia a informação dos relacionamentos que esse
personagem vive na novela e que recebe o apoio de uma ampla margem do ibope
feminino. A ideia central do que eu li está em torno do seguinte: Téo é um
garanhão. E só. Ou seja, a ele se pode dar o direito de defender um pretenso
amor (margeando o platonismo) e ser visto como detentor de um caráter
inquestionável por conta da sua luta de cavalaria em nome de uma donzela que
ainda vai sofrer por não poder viver esse grande amor.
Pois
bem, vamos entender melhor esse “mocinho”. Antes, quero me reportar a outra
novela lançada no horário das nove, O Clone. Na época, era quase unânime a
torcida para que Jade, que era casada com Said, vivesse seu amor com Lucas, que
por sua vez, era casado com Maysa. Como o amor dos heróis não foi possível,
devido às convenções do casamento, então Jade passa a ter encontros extraconjugais
com Lucas, o que é muito bem recebido pelo público.
As
duas histórias, embora em anos e tempos diferentes, têm muito em comum. Ambas
deturpam a ideia original de amor platônico, por incrementarem um velho
comportamento humano: o adultério. Ou seja, para se ganhar audiência, vale-se
de histórias que parecem (eu disse parecem) retratar a luta pelo verdadeiro
amor, mas às quais se permite o gozo das relações de aventuras e de traições.
Busca-se justificar o adultério por os personagens encontrarem em seus caminhos
pessoas que atrapalham a realização plena do amor.
Téo
é um personagem que recebe aceitação pelo que faz por justamente se encaixar no
antigo mundo das fadas: ser bonito e galante. O vai e vem nos relacionamentos
do personagem não sofre retaliação do público por ele deter a máscara do homem
ideal: bonito. Ou seja, Téo viveria a figura de um romântico.
A
música de Roberto Carlos é outra que perdeu seu sentido por não se relacionar
mais com as novas práticas do galã (violento, revoltado, vingativo, adúltero). Mas
o poder do cavaleiro é comprovado na maneira como ele trata outra personagem
tida como dura e resistente: Lívia. O fato de Téo a ter aos pés dele e
humilhá-la propõe a ideia da força do seu encanto e isso “legitima” seu caráter
e o torna um herói aparentemente completo.
Outra,
Téo está se encontrando novamente com Morena, o que foi muito bem recebido
pelos telespectadores, mesmo ignorando o fato de a atual mulher dele ser
“merecidamente” ignorada e enganada. Para o público, isso é uma luta pelo amor.
E vale a pena. Agora só resta Glória Perez tornar Érica uma mulher obsessiva,
violenta e amarga (da noite para o dia). E o público odiará essa personagem (da
noite para o dia).
O
“Esse cara sou eu”, de Roberto Carlos, é só uma vendagem de sonhos, igual aos
mesmos discos vazios do cantor, assim como os exemplos de Téo são uma máscara
alimentada pela necessidade do Ibope na audiência “global”. Téo não é o
verdadeiro romântico, é apenas uma representação do galã de novelas
brasileiras.
O
resultado disso é uma moeda. De um lado, percebem-se bem retratados os
relacionamentos frágeis e adúlteros do nosso tempo e, de outro, a injeção de
credibilidade de que isso é absolutamente aceitável e natural. Banal. Trivial.
Um círculo vicioso e normal.
E
os bons valores, as igrejas, as escolas e a família perderam ante o comodismo
televisivo criado no Brasil: a violência já não espanta, a corrupção já não
espanta, a miséria já não espanta, o erotismo já não espanta e o adultério já
não espanta. Vivemos ante o oco moral histórico construído ao longo dos séculos
e ganhando legitimidade por conta da nossa tão argumentada natureza humana
vulnerável ao erro.
Vivemos
numa sociedade sem bons ídolos, sem boa música, sem políticas sociais
verdadeiras, com poucas práticas religiosas, com alto consumismo, com nossa
submissão à tecnologia, sem a célula familiar funcionando como deveria e agora
sem qualquer pudor para se justificar que estamos amando. Não se precisa ter profundeza,
nem se provar que se ama alguém, bastam cenas e frases de efeitos publicitários
para que a beleza exterior (a física) ganhe a força de um caráter.
Impressionou? Então é amor!
Depois
disso tudo, é simples afirmar que Téo não representa mais aquele romântico
pregado naquela música e que ele é mais um homem comum, mais do que se imagina.
Seus vícios estão vindo à tona. Seus lances recheados de infidelidade fazem-no
cair do cavalo. Não sei se a ideia de Glória Perez era a de propagar um tipo
ideal, mas que esse que aparece na novela é muito carne e osso, isso é.
Mas,
a ideologia por trás disso tudo chama a atenção, pois, o fato de o público
justificar a traição ao mesmo tempo em que parece refutá-la em seu cotidiano,
põe à mostra o caráter duvidoso do brasileiro e a evolução de um comportamento
histórico aqui arraigado: o do comodismo.
Esse
comodismo trouxe ao nosso presente a aceitação indiscutível e cega dos valores
impostos pelos maus costumes. Assim como muitos dizem que se um político
roubar, mas fizer alguma coisa já está valendo, assim também estão analisando
certos fatos apenas por um ponto de vista. É o caso das novelas, como Salve
Jorge, em que o público fica do lado de quem “se ama” e ignora a dor de quem
deixou de ser amado, provando que o que acontece com os outros é com os outros.
E que o amor é assim mesmo. E pronto. E traindo é melhor ainda, parece uma
luta!
Ante
à fraca imagem de um herói pretensamente romântico, mas que caiu no corpo de um garoto propaganda e a evolução do
comodismo do brasileiro, cabe questionar: em que lugar se pode confiar em
alguém? No Facebook? Em casa? Em que lugar e ocasião as pessoas realmente se
amam? O que se vive hoje se vive para si e para o seu outro ou se vive apenas
para que outros vejam que você vive “bem”?
Então,
trair alguém vivendo certas fantasias eróticas, sexuais, fazendo sexo pelo
telefone, pela internet, pelo celular é normal? Na televisão é. Alguém aceita
isso em sua vida real?
Quantos
Téos a Globo vai produzir? As Jades vão voltar? Com certeza. Isso está ligado
ao mercado, ao capitalismo, não ao que nossos antepassados nos deixaram. As
novelas só vão mudar se nós também mudarmos. Os valores e ensinamentos que elas
estão proporcionando ao público vão de acordo com o que esse público acredita.
Nesse caso, a mídia alimente o povo e o povo alimenta a mídia.
Portanto,
ver novela e entender novela precisam ser separados. Do contrário, o Téo está
certo, porque “ama” a Morena e a Érica está errada e louca, pois está com um
homem que amava uma morta. Detalhe: só nós sabíamos disso.
Sábias reflexões, estamos juntos professor. Mas quem será é o CARA? os protótipos apresentados pela mídia são inversões de valores! professor Jairo, dá uma olhadinha na minha página brother! www.profjairo07.bolgspot.com.br
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