sexta-feira, 12 de abril de 2013

A LÂMINA



           
            E estou eu no meu canto. No canto onde jogam a solidão. No canto sem melodia nem acordes. E estou só. Embora eu não entenda bem o que é estar só. É só. E porque não entendo, também não canto nenhum canto de dor. Nem a dor veio me visitar. Tudo é só um canto, sem encanto de nada.
            O vento da hélice sacode alguns papéis jogados ao chão da sorte. Papéis que são como dados lançados em lances de jogo. Eu não jogo. Mas estou no jogo. Os papéis eram falsos poemas de amor. Eu disse que os poemas eram falsos, não o amor. O amor eu não sei como existe. Ele também fica em seu canto. Mais inexplicável do que eu. Eu e o amor somos alheios. Ele já não me liga a nada. Ele, não me é nada. Mas sua máscara é tudo. Tudo que lhe encerra e lhe reluz é bom. É doce. Mas o amor não deixa seu canto. Por isso, eu o olho e o percebo sem encanto algum.
             Passo suavemente meus pés arrastando alguns papéis pelo chão. Eu e os papéis estamos no chão. A hélice parece girar com mais força, parece que um leve vento a fez ter mais ânimo. É a janela entreaberta do quarto. Eu disse do quarto, não do meu canto. Por ela passou uma brisa um pouco agressiva. Passou por mim e beijou meu rosto. E nesse instante senti um amor. Fiquei faceiro, alegre e vermelho. Mas foi-se a brisa e nada ficou. Então novamente não compreendi.
            Mas eu não preciso entender tantas coisas. Essa brisa maldita comigo brincou. Animou meu coração ali aquietado. E...Foi-se! Foi-se. Foi-se...
            De repente um ruído vem da janela. Entra por ela e conhece o meu chão. Cai perto dos meus pés, junto aos papéis. Que susto! Olhei com mais calma. Arredei-me um pouquinho. A hélice maldita e sua brisa comparsa mataram uma alma em frente a meus olhos. Primeiro me fizeram sonhar um segundo. Mas agora, sem vida, estirado no piso frio, ali quedava um lindo corpinho: era de um passarinho sem respiração.

Mirinaldo, 11 de abril de 2013

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