E
estou eu no meu canto. No canto onde jogam a solidão. No canto sem melodia nem
acordes. E estou só. Embora eu não entenda bem o que é estar só. É só. E porque
não entendo, também não canto nenhum canto de dor. Nem a dor veio me visitar.
Tudo é só um canto, sem encanto de nada.
O
vento da hélice sacode alguns papéis jogados ao chão da sorte. Papéis que são
como dados lançados em lances de jogo. Eu não jogo. Mas estou no jogo. Os
papéis eram falsos poemas de amor. Eu disse que os poemas eram falsos, não o
amor. O amor eu não sei como existe. Ele também fica em seu canto. Mais
inexplicável do que eu. Eu e o amor somos alheios. Ele já não me liga a nada.
Ele, não me é nada. Mas sua máscara é tudo. Tudo que lhe encerra e lhe reluz é
bom. É doce. Mas o amor não deixa seu canto. Por isso, eu o olho e o percebo
sem encanto algum.
Passo suavemente meus pés arrastando alguns
papéis pelo chão. Eu e os papéis estamos no chão. A hélice parece girar com
mais força, parece que um leve vento a fez ter mais ânimo. É a janela
entreaberta do quarto. Eu disse do quarto, não do meu canto. Por ela passou uma
brisa um pouco agressiva. Passou por mim e beijou meu rosto. E nesse instante
senti um amor. Fiquei faceiro, alegre e vermelho. Mas foi-se a brisa e nada ficou.
Então novamente não compreendi.
Mas
eu não preciso entender tantas coisas. Essa brisa maldita comigo brincou.
Animou meu coração ali aquietado. E...Foi-se! Foi-se. Foi-se...
De
repente um ruído vem da janela. Entra por ela e conhece o meu chão. Cai perto
dos meus pés, junto aos papéis. Que susto! Olhei com mais calma. Arredei-me um
pouquinho. A hélice maldita e sua brisa comparsa mataram uma alma em frente a
meus olhos. Primeiro me fizeram sonhar um segundo. Mas agora, sem vida,
estirado no piso frio, ali quedava um lindo corpinho: era de um passarinho sem
respiração.
Mirinaldo, 11 de abril de 2013
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