terça-feira, 24 de novembro de 2020

Racismo: demência versus razão

Por Mirinaldo 

O Brasil vive a onda do NEGACIONISMO. Há queimadas na Amazônia e no Pantanal, mas elas não existem. Não há corrupção. As mulheres não são vítimas de violência nem de feminicídio, as que são assassinadas é porque procuraram a morte desafiando os homens que são mais fortes fisicamente. Os presos estão na cadeia porque escolheram o caminho do crime, ou seja, eles adoram estar nos presídios. As meninas engravidam porque querem ou porque usam roupas curtas. Os índios não deveriam ter terras, muito menos demarcadas, terras são para fazendeiros e grileiros. A covid-19 é só uma gripezinha. O problema do Brasil são os treze anos do PT, não os 503 anos da direita. E segue a manada. Mas a última foi a do racismo. Não existe racismo no Brasil, isso é coisa da esquerda querendo o poder. Não vou me ater sobre o que é esquerda, é uma aula longa, pode ficar para a próxima. Mas, por que se diz que o racismo é uma invenção da esquerda? Por dois motivos: o primeiro tem a ver com a falta de conhecimento de quem fala, ou seja, andam dizendo por aí, então vou replicar. É tipo eu perguntar qual foi o crime do Lula ou quanto ele roubou. Ninguém sabe, mas estão dizendo por aí, é onda, então vamos surfar. Isso ainda ocorre por conta do embalo da “não análise”, ou melhor, pensar requer esforço e politização, por isso muitos não se dão ao trabalho. Os que são considerados bons agora são os que reproduzem discursos de ódio sem interpretação, não é à toa que existem os robôs das fake News, aqueles que projetaram a imagem positiva de Bolsonaro nas eleições passadas. Você não está pensando que ele ganhou sem “mexer um dedinho”, está? Que bobinho! Ah, você entendeu a expressão “mexer um dedinho”, não entendeu? Voltando. O segundo motivo diz respeito a quem luta contra o racismo, não com quem o camufla. A direita tem mantido políticas que ludibriam o povo a pensar que somos uma miscigenação em plena harmonia. O que é falso, assim como a tolerância religiosa é outra mentalidade forjada. E essa ideia é vendida nas escolas, nas igrejas e no campo político da direita. O embate vem da esquerda. Por isso, os seguidores do bolsonarismo deflagram ataques e multiplicações de robôs para tratar o tema como uma tese criada e não como um assunto de cunho social, cultural e ideológico, ou seja, sócio-histórico. Alguns bolsonaristas trazem argumentos que tendem a levar a questão para o campo da violência social, aquela que sempre pôde esconder o tema racismo quando ele sempre foi abafado pelas elites políticas brancas: a direita. Por exemplo, há quem se identifique como negro e que não se vê vítima de racismo. Aí está um sério problema. Você se lembra da campanha sobre a violência contra a mulher? Pois é, lá estavam os argumentos que as vítimas costumam usar para não sofrerem retaliação: cair da escada, bater a cabeça no tanque, escorregar no tapete etc. Mesmo quem se diz imune ao racismo pode estar sob forte ataque dele, pois é a violência que pode ser considerada a mais sutil de todas, por ser praticada de maneira simbólica (segundo Pierre Bordiau), sem execução sumária ou agressão física. São desculpas e rodeios que podem ser dados para justificar uma negativa a quem é negro. Nem sempre se deve esperar um soco ou um Hadaka Jime. Nesse caso, o próprio negro pode nunca ter sabido se foi violentado ou não. Então, por que alguns se dizem negros e negam qualquer violência por conta disso? Porque estão procurando adequar seus discursos ao alinhamento político do momento: negacionismo. Nesse caso, tanto mulheres vítimas de violência quanto negros negacionistas têm em comum a prática de negar, porém, elas o fazem como defesa e eles, como promoção da ideia política em voga, portanto, o negacionismo delas é estrutural, enquanto o deles é circunstancial. Vejam as atrocidades defecadas pela boca do presidente da Fundação Palmares (que é negro). Nada melhor que colocar um negro para atacar os próprios negros e desmontar todas as políticas antirracistas, assim como é estratégico colocar um ministro do Meio Ambiente que permite o desmonte das políticas contra crimes ambientais. Não se trata só de negar, mas de atacar as classes desfavorecidas enquanto há um embate ideológico no campo midiático. E a boiada vai passando. Outros ainda colocam situações envolvendo a prática de violência de negros contra brancos, como forma também de não institucionalizar o racismo. Mas é outro equívoco. Como? Em primeiro lugar, a violência é um assunto, não um tema. Então estamos tratando de uma concepção generalizante, mas que se desdobra em seus temas: violência infantil, doméstica, contra a mulher, intolerância religiosa, racismo etc. Negros são seres humanos sujeitos ao seu meio e à sua história. Ponto. Também cometem crimes, sentem ganância e estão submetidos às mesmas influências dos fatores sociais. Nesse caso, por que considerar o racismo em específico? Trata-se da comparação da violência que os negros sofrem em relação às outras violências. Então poderíamos dizer que os negros são melhores que as mulheres e as crianças? Não. Trata-se de analisar quem sofre todas as violências supracitadas (mais as outras) em relação aos outros grupos. Resultado: os negros. Ou seja, numericamente são eles os desfavorecidos em todas as áreas (segurança, educação, saúde, emprego, saneamento, direitos trabalhistas, salários etc.). Nesse caso, podemos dizer, sim, com absoluta certeza, que todos sofrem as mesmas violências que os negros, mas não na mesma proporção. É certo que o ideal é eliminar toda violência, mas quando considerar uma violência como racismo? Só o ato em si não basta, e é aí que os argumentos do “fascisbolsonarismo” estão viciados de erros. Eles só consideram a cena. Mas a cena de violência pode ser igual a de um branco sofrendo espancamento por negros ou por outros brancos, ou de negros agredindo outros negros. São fatores além do que vimos que nos permitem ver a manifestação do racismo. São as repetições frequentes de atos violentos contra os negros, são as situações histórico-sociais de suas vivências em sociedades desfavorecidas, são os estereótipos que lhes são atribuídos pelos brancos e pelas religiões da direita, são as ações políticas que se desviam das comunidades negras, são os resquícios da visão de superioridade da raça branca que ficaram do período escravista, são as atribuições de humanidade aos brancos como cristãos e aos negros como anticristãos, é a violência gratuita praticada contra os negros, são as práticas de segregação nos mais variados ambientes possíveis, são os números de negros fora das escolas e das universidades, são os presídios lotados de negros em desproporção aos brancos, são as baixas habilidades e capacidades de analisar fatores impulsionantes por razões do fracasso escolar da nossa sociedade pouco letrada, são fatores culturais arraigados na sociedade etnocêntrica branca, é o desconhecimento dos processos de colonização do Brasil, é a visão idealizada e estereotipada de qual seria a classe dominante (em que não se inclui o negro), é a concepção de que os negros devem ocupar cargos desprestigiados (já que só se imagina que eles vieram da escravidão), é a concepção rija de que a raça determina o homem (daí escolheu-se a negra como a inferior e marcar os que descendem na escala social), é a visão do cristianismo capitalista que maquiou Jesus como um ser branco (levando a crer que ele pertence ao continente europeu e que está aqui representado pela elite branca), etc., etc. e etc. O “fascisbolsonarismo”  só leva o seu rebanho a “pensar” em questões taxativas: é só mais um ato violento. Não, sem análise, sem escola, sem princípios do verdadeiro cristianismo é isso, mas é o contrário que nos permite entender e compreender o problema sob a ótica da sua real natureza e não dos pontos de vista copiados dos outros. Há que se lutar, sim, todos os dias, contra qualquer forma de truculência, pois aqui não se está buscando eliminar o racismo ou que ele se equipare às estatísticas das outras violências para fazer a sociedade parecer justa e igualitária. Se existirá um momento em que se poderá confirmar que a violência tal deixou de existir, não importa se o racismo seja a última da lista, mas importa que ele existe, está aqui, branco ou preto, azul ou amarelo. O que se possa ver fora desse âmbito, é demência. E, para eliminar a demência sob essa visão estrábica, nada melhor que eliminar o poder do demente. Pois a demência é a pior forma de racismo. E ainda vai buscar legitimar a morte dos negros até que o “fascisbolsonarismo” despenque e se restaure a ordem democrática legítima e soberana. Afinal, de alguma forma, todas as ações e discursos do mal foram personificados num ser. Derrube esse ser e o discurso do ódio será desinstitucionalizado.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Aulas on-line: a grande farsa

Por Mirinaldo

As aulas nunca deveriam ser on-line. Mas o são por conta de um fator muito maior: a pandemia. Mas o problema que nos trouxe até aqui não foi a covid-19. Assim como ainda não há vacina para o coronavírus, também não há instrumentalização para os docentes e muito menos para os alunos para que adotem as aulas on-line como continuação segura dos estudos. O sucateamento das escolas no seu tema tecnologias e educação cresceu mais que os matos ao redor das salas. Vivemos numa floresta obscura de ignorância. Toda estupidez aflorou e jorra seu néctar salivado de doenças da falta de inteligência. É o momento dos estúpidos! E eles pretendem ultrapassar 2022.
Há um projeto de venda da educação elaborado por parte da direita brasileira, de acordo com a cartilha norte-americana. Ela teria feito isso no embalo das privatizações antes de 2002. Para alcançar tal meta, assim como se está fazendo com o Pré-Sal, Amazônia e os Correios, deixa-se apodrecer a educação. Fétida, vende-se. O mundo corre para as inovações tecnológicas e as associa ao ensino (não à educação!), e ninguém pode ficar para trás. Mas fica. O Brasil ficou. Vai a passos lentos. As tecnologias da nossa área avançam, mas precisam de recursos para serem implementadas. E, para terem os recursos, precisam da política. E a política é dos poderosos. E eles querem dinheiro. A educação popular não é e nunca foi a mesma educação da elite política. Para nós (povo de verdade, com fundamento cristão, inclusive), educação é prática libertadora; para a elite, é lucro. 
O modo como fomos conduzidos às aulas remotas revela toda a ignorância dos políticos. Mas a ignorância maior é a nossa, pois a educação libertadora nunca existiu nessas terras tupiniquins. Só nos servimos da educação doméstica, de gado. Sem formação alguma e com quase zero recurso nas escolas para também preparar os alunos. Mas mesmo preparando-os, isso não resolve a sua condição de acesso aos bens de facilitação do ensino, então de um jeito ou de outro chegaríamos a esse maldito lugar pelo mesmo caminho. Sim, pois, se todas as escolas fossem equipadas, mas a maioria dos alunos ainda vivendo em condições de negligência do acesso aos serviços de internet, o lugar seria este aqui mesmo: descaso.
E agora, o que temos? Aulas on-line!
Um sinônimo de trapalhadas, desconhecimento, aquisições aleatórias de insumos e técnicas, professores e alunos em total descompasso, professores intimidados pela falta de domínio das tecnologias, alunos que descobriram que – de internet – só sabem mesmo baixar joguinhos, pais vendo seus dados móveis sumirem e seus filhos sabendo igual ou menos do que antes, falta de manejo com digitações simples, criação de grupos de cola, copia e cola do Google, trabalhos mal formatados, horários descumpridos, tempos de aula relativos, cobrança de resultados apostando na bondade e submissão do professor de se virar sozinho, imagens de professores heróis enviando vídeos para alunos dentro da floresta, alunos que não aprendem, meia dúzia de favorecidos socialmente com internet e celular para se manter em dia com as atividades e a maioria esmagadora sendo a excluída dentro de uma camada já também excluída (mas sazonalmente excludente). E não param por aí os problemas. Tudo maquiagem. 
Não que não devesse haver as aulas on-line nesse período complicado. Mas o caos já foi planejado lá atrás. Essa bravata toda não veio do acaso. Há a intenção de demonstrar à estúpida sociedade negacionista que a educação, sob o patronato público, não funciona, não deu nem conta de se equilibrar remotamente, não sabe lidar com tecnologia. E essa sociedade cristã de araque vai acreditar que nós temos tecnologia!
Prato perfeito para o abocanhado capitalista privatizante, neofascista, autoritário, ou seja, bolsonarista. Vender! E se, de repente, a esquerda volta ao poder (como voltou na Bolívia!) e permite uma agenda de educação emancipatória? Claro que isso seria o fim da direita que só voltaria ao poder se implementasse mais um golpe como o fez em 2016. A educação precisa passar de vez para o controle financeiro e despregar-se da ideologia da libertação. É uma defesa da direita. A educação militar faz parte desse processo. Oferece um ensino de cadeira, conteudista e subserviente ao Estado. Você acha que o governo de milicianos apoiou o Programa Escola Sem Partido por quê? Deixe de ser ingênuo! É parte da retirada do pensamento filosófico da educação para a implementação de uma educação sob a égide do falso cristianismo oferecido pelas religiões da direita, que bebem na mesma fonte do nazismo, fascismo, capitalismo e totalitarismo.
Esse penoso trabalho chamado aulas on-line pode ser o calcanhar de Aquiles de mais uma derrocada da educação. E deve persistir nas nossas casas, pois é de se fingir que se resolvem as coisas que o Brasil vive. Cumpramos o conteúdo que está só na nossa cabeça e mostremos à sociedade e ao governo antivacina e genocida que nós trabalhamos, sim. Estamos dando aula! Um dia a gente forma. Não nos esqueçamos das fotos com os alunos diante dos cadernos e com os uniformes das escolas (são provas cabais de que estão teatralizando o estudo dentro de casa e, inclusive, nos obedecendo!). Também não nos esqueçamos de recolher a frequência mandando que eles digitem os nomes (se é que são eles que estão com o celular) no início ou no final da aula. Também não nos esqueçamos de fazer os pais assinarem o termo de responsabilidade, obrigando-se a dizer que agora eles são pais de verdade e que estarão em casa vendo os filhos com uma puta de uma raiva da Globo que convenceu os brasileiros a ficarem em casa e que o presidente é que estava certo sobre a flexibilização que, segundo ele, mataria só os velhos (pô, aturar esses meninos esse tempo todo!?). 
E não nos esqueçamos de que podemos estar nos tornando bons atores da mediocridade e péssimos na construção da educação libertadora de verdade. Já falhamos uma vez. É muito arriscado errar de novo.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Suicídio espiritual

Por Mirinaldo 

Eu acrescentaria:
11. Falar de Deus, mas curvar-se ao nazifascismo; 12. “Pregar” a fraternidade, mas opor-se ao comunismo e tratá-lo como crime só para ficar do lado dos poderosos; 13. Ajoelhar-se nas orações, mas fazer o mesmo diante dos genocidas; 14. “Pregar” a partilha, mas defender a propriedade, o capital e a ascensão social; 15. Interpretar a Bíblia de acordo com os valores da direita e das classes dominantes; 16. Falar por aí do Evangelho, mas viver o “evangelho da conveniência”; 17. Dizer-se seguidor de Cristo, mas viver dominado pelos políticos, poderosos e pelo dinheiro; 18. “Pregar” sobre o paraíso, mas defender as queimadas consentidas pelo seu grupo político; 19. “Pregar” a simplicidade, mas lutar todos os dias para ser rico ou andar ao lado dos afortunados; 20 “Pregar” a boa política e constituir bancadas cristãs, mas votar contra o trabalhador, os pobres, os negros, os gays, os índios, as mulheres e os miseráveis; 21. Falar do Reino de Deus, mas buscar todos os dias as melhores posições sociais e políticas; 22. Falar do perdão, mas condenar os que não fazem parte da sua religião; 23. Dizer-se puro por andar com a Bíblia, mas subjugar os fracos e oprimidos culpando-os pela situação em que vivem; 24. Falar do amor cristão, mas classificar o próximo como “inimigo” que persegue sua vida e que deve ser condenado, fazendo o papel de Deus; 25. Falar que dá a vida em nome de Jesus, mas abandonar os aflitos na primeira ocasião para poupar a própria vida; 26. Dizer por aí que vive a paz de Cristo, mas sentir inveja, ódio e perseguir os outros por questões políticas e religiosas.

Enfim: IGNORAR O VERDADEIRO EVANGELHO E VIVER O FALSO.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Vamos assistir a esse filme?

 


Por Mirinaldo

O governo Bozo fez um corte bilionário na educação. Para quem não perdeu seu voto, isso não é novidade. Mas é assustador mesmo assim. O ditador divulgou a premissa de priorizar a educação básica, mas ela foi atingida em cheio: corte de 2,4 bilhões de reais. Não perderei meu tempo com os acéfalos que comemoram a ideia do quanto pior melhor, pois não sabem o que é melhor nem o que é pior e muito menos são capazes de dimensionar um problema dessa magnitude, afinal, a educação não faz falta aos que nasceram unicamente com instintos e um título de eleitor na mão. Vamos ao que se quer com esse golpe. Há três questões em jogo.

A primeira diz respeito ao que a direita esquizofrênica chama de limpeza ideológica. Em bom português: eliminar o elefante branco da sala. Eu estava brincando: é eliminar o fantasma que assombra o palácio: o socialismo. Detalhe: sem socialismo. A falta justamente de uma educação mais protagonista (temos aí me culpa) levou muitos zeros pensantes a conceber a existência do comunismo e do socialismo no Brasil sem conhecimento de causa, mas o que tem causado um espírito alucinógeno de pseudointelectualismo. Ou seja, quem disser que o PT, o PSOL, o socialismo e o comunismo acabaram com o Brasil está devidamente diplomado. Não entrarei no mérito de discorrer sobre o que é socialismo e comunismo (em outro momento, prometo) e brincar de verdade-desafio sobre o tema. Oxalá tivéssemos um socialismo ou um comunismo (este, que fosse de base cristã de verdade!). Falo sério mesmo! E sem esse diploma de Bozoburrologia. O ataque do ditador às universidades, segundo ele, se justifica pelo fato de essas instituições promoverem o pensamento crítico, reflexivo, científico e filosófico. Tô brincando, ele não falou assim. Ele disse que quer expulsar o pensamento de esquerda. Coisa de quem se aposentou cedo demais, ganha bem e não tem dedicação a estudo algum. Na verdade, esse discurso é a balinha da eleição, lembra que os caras distribuíam balinha para as crianças e elas viam tudo doce? Pois é, enquanto a gente fica bancando o sabidão da direita sobre como se cospe em discurso socialista, o plano segue  adiante. Vamos assistir a esse filme?

Vamos à segunda questão. Ok, enquanto segue o filme dos “Caça-socialistas” (Você se lembra dos Caça-fantasmas?), a segunda questão diz exatamente respeito à falta de projeto do Bozo para a educação do país. Mostre um. Mostre meio. Não, deixe, não perca seu tempo. Não existe projeto do (des)governo para uma caneta sequer. Quando, numa ditadura fria, como a que estamos vivendo agora, o ditador é inerte e despreparado, a ação truculenta é a única saída para ele mostrar que está lá no poder. Mas somente consegue mostrar isso. Não permite ser questionado, contrariado, então despeja seus desmandos como marca de que há um governo ali. Fora isso, teria que ficar como alguém disse certa vez: Se ele não roubar, já vai valer a pena. Nossa, um ladrão parado! A pena do salário mínimo, a pena do desemprego, a pena da submissão aos EUA, a pena da homofobia, a pena da arrogância e vai se soltando a pena por aí. Mas há um detalhe: esta segunda questão ainda não é a finalidade, assim como a primeira, a de caçar socialista alienígena. A primeira e a segunda questão são a parte do palco, são meios. Lá nos bastidores está a real finalidade: privatizar a educação. Bom, vou parar o meu texto. Daí pra frente a questão é a seguinte: se os diplomados no Bozonarismo têm, além de retórica primata, uma boa poupança, então comecem a comemorar. Mas primeiro olhem a poupança! Eu disse a poupança! Porque quando a coisa for realmente implantada, não vai haver bolsa discriminando quem assistiu ao filme “Os Caça-socialistas” nem para quem estava atuando nele. Por isso, todo discurso deve ter uma reserva. Toda atitude, uma ressalva. E todo bolsomínio, uma poupança. Porque quando a educação for de vez para o bolso dos capitalistas, então eu quero ver quem vai nos emprestar uma graninha. O Queiroz eu sei que não é.

 

O brado verdadeiramente retumbante

 


 

Por Mirinaldo

 

E estamos nesta terra desgraçada

Convivendo com a insana humanidade

Sob o julgo dos cristãos – dos falsos santos

E suas porcas morais já ultrajadas

Sob o império do capital americano

Sob a cultura europeia importada

 

Destinados a viver sob os impérios

Dos patrícios malparidos das cartolas

Que de dia escarram santidade

E à noite a vomitar suas falsas glórias

Vão sangrando as virgens e sãs ideias

Deturpando os valores da história

 

Com a cruz de um Senhor justo e santo

Ergueram ao lado a bandeira da soberba

Possuídos de demônios em suas cartas

Encheram suas panças com esta terra

E beberam nosso sangue limpo e puro

E puseram a verdade nas cisternas

 

Na aldeia do apartheid cá estamos

Na cultura inferior que nos legaram

Na prisão da ignorância então cativos

Veias abertas vendo o sangue derramado

Sob o olhar de almas podres ditas grandes

Sob os discursos de amparos sempre errados

 

Nas festinhas maltrapilhas das escolas

Mais fracassos se juntaram às nossas faces

Tantos artefatos e fotos espalhadas

Somos seres de folclores nunca nossos

Tantas flechas tantos arcos nas imagens

Não mostraram a verdade: nossos ossos

 

Os urbanos nas suas castas financeiras

Vivem a pregar, sem saber, o socialismo

Mas matam entre si os comunistas

E no final têm seus corpos ao abismo

É mais forte o que lambe as robustas panças

E os bigodes de abutres ensandecidos

 

É falsa essa nação de almas sujas

Que posta a imagem de selvagens

Mas bebe o sangue deles o quanto pode

Enquanto descarna a verdade

E se riem das crianças índias mortas

Condenadas pelos pais da bestidade

 

 

E toda a história não teve a nossa pena

Só medalhas de defecados imperadores

Nossa sina foi morar sobre a terra

Mas na condição de ela nunca ser mais nossa

Pois nos tornamos brasileiros empossados

Com migalhas e uma corda para a forca

 

E eis que o inferno completamente inconformado

De ainda não ver nossa história consumida

Gestou uma peste apocalíptica

E a tronou como um burro genocida

Com plateia segurando seu escroto

Sonhando com as carcaças: nossas vidas

 

E esse ser, esse Gosma salivar

Com uma bíblia e um quadro de um Deus vivo

Vive a fechar os seus olhos genocidas

Babando orações e as cuspindo

Desejando que os mais ricos bebam sangue

Para logo festejar o genocídio

 

E a maldita história nunca muda

Procriam-se os filhos da desgraça

Fracassados na escola e na ciência

Rompem as glotes nos delírios pelas praças

Em nome de seu credo e do Gosma

 

Quanto à mata de onde saem nossas palavras

São o visto das máquinas e do mercúrio

São o lugar onde os abutres veem sem vida

E comem o ouro e então sorri o capitão doido

Sanguinário da América perdida

Com seus vampiros: almas secas, mãos de arrombo

 

E este dia 19 ninguém conta

Numa pátria onde não se sabe o que são apuros

Se é lutar para manter todas as vidas

Ou se é para salvar todos os vírus

Em que índio só se vê como palavra

Na arcaica aula de substantivo

 

Se o Diabo aqui cravou a má história

Deus Divino e deus Tupã vão ao combate

Se o inferno vai às ruas de amarelo

Nossos índios lutarão ao não empate

Pois como toda história tem um final

Que o Diabo tenha certo o seu abate

 

Tal como a natureza se transforma

Haveremos de chegar à solução

Renovados pelo espírito da Mãe Terra

Esse Gosma cairá com os seus ao chão

E viva os índios desta terra maltratada

Que todo dia têm que vencer o capitão.