segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Aulas on-line: a grande farsa

Por Mirinaldo

As aulas nunca deveriam ser on-line. Mas o são por conta de um fator muito maior: a pandemia. Mas o problema que nos trouxe até aqui não foi a covid-19. Assim como ainda não há vacina para o coronavírus, também não há instrumentalização para os docentes e muito menos para os alunos para que adotem as aulas on-line como continuação segura dos estudos. O sucateamento das escolas no seu tema tecnologias e educação cresceu mais que os matos ao redor das salas. Vivemos numa floresta obscura de ignorância. Toda estupidez aflorou e jorra seu néctar salivado de doenças da falta de inteligência. É o momento dos estúpidos! E eles pretendem ultrapassar 2022.
Há um projeto de venda da educação elaborado por parte da direita brasileira, de acordo com a cartilha norte-americana. Ela teria feito isso no embalo das privatizações antes de 2002. Para alcançar tal meta, assim como se está fazendo com o Pré-Sal, Amazônia e os Correios, deixa-se apodrecer a educação. Fétida, vende-se. O mundo corre para as inovações tecnológicas e as associa ao ensino (não à educação!), e ninguém pode ficar para trás. Mas fica. O Brasil ficou. Vai a passos lentos. As tecnologias da nossa área avançam, mas precisam de recursos para serem implementadas. E, para terem os recursos, precisam da política. E a política é dos poderosos. E eles querem dinheiro. A educação popular não é e nunca foi a mesma educação da elite política. Para nós (povo de verdade, com fundamento cristão, inclusive), educação é prática libertadora; para a elite, é lucro. 
O modo como fomos conduzidos às aulas remotas revela toda a ignorância dos políticos. Mas a ignorância maior é a nossa, pois a educação libertadora nunca existiu nessas terras tupiniquins. Só nos servimos da educação doméstica, de gado. Sem formação alguma e com quase zero recurso nas escolas para também preparar os alunos. Mas mesmo preparando-os, isso não resolve a sua condição de acesso aos bens de facilitação do ensino, então de um jeito ou de outro chegaríamos a esse maldito lugar pelo mesmo caminho. Sim, pois, se todas as escolas fossem equipadas, mas a maioria dos alunos ainda vivendo em condições de negligência do acesso aos serviços de internet, o lugar seria este aqui mesmo: descaso.
E agora, o que temos? Aulas on-line!
Um sinônimo de trapalhadas, desconhecimento, aquisições aleatórias de insumos e técnicas, professores e alunos em total descompasso, professores intimidados pela falta de domínio das tecnologias, alunos que descobriram que – de internet – só sabem mesmo baixar joguinhos, pais vendo seus dados móveis sumirem e seus filhos sabendo igual ou menos do que antes, falta de manejo com digitações simples, criação de grupos de cola, copia e cola do Google, trabalhos mal formatados, horários descumpridos, tempos de aula relativos, cobrança de resultados apostando na bondade e submissão do professor de se virar sozinho, imagens de professores heróis enviando vídeos para alunos dentro da floresta, alunos que não aprendem, meia dúzia de favorecidos socialmente com internet e celular para se manter em dia com as atividades e a maioria esmagadora sendo a excluída dentro de uma camada já também excluída (mas sazonalmente excludente). E não param por aí os problemas. Tudo maquiagem. 
Não que não devesse haver as aulas on-line nesse período complicado. Mas o caos já foi planejado lá atrás. Essa bravata toda não veio do acaso. Há a intenção de demonstrar à estúpida sociedade negacionista que a educação, sob o patronato público, não funciona, não deu nem conta de se equilibrar remotamente, não sabe lidar com tecnologia. E essa sociedade cristã de araque vai acreditar que nós temos tecnologia!
Prato perfeito para o abocanhado capitalista privatizante, neofascista, autoritário, ou seja, bolsonarista. Vender! E se, de repente, a esquerda volta ao poder (como voltou na Bolívia!) e permite uma agenda de educação emancipatória? Claro que isso seria o fim da direita que só voltaria ao poder se implementasse mais um golpe como o fez em 2016. A educação precisa passar de vez para o controle financeiro e despregar-se da ideologia da libertação. É uma defesa da direita. A educação militar faz parte desse processo. Oferece um ensino de cadeira, conteudista e subserviente ao Estado. Você acha que o governo de milicianos apoiou o Programa Escola Sem Partido por quê? Deixe de ser ingênuo! É parte da retirada do pensamento filosófico da educação para a implementação de uma educação sob a égide do falso cristianismo oferecido pelas religiões da direita, que bebem na mesma fonte do nazismo, fascismo, capitalismo e totalitarismo.
Esse penoso trabalho chamado aulas on-line pode ser o calcanhar de Aquiles de mais uma derrocada da educação. E deve persistir nas nossas casas, pois é de se fingir que se resolvem as coisas que o Brasil vive. Cumpramos o conteúdo que está só na nossa cabeça e mostremos à sociedade e ao governo antivacina e genocida que nós trabalhamos, sim. Estamos dando aula! Um dia a gente forma. Não nos esqueçamos das fotos com os alunos diante dos cadernos e com os uniformes das escolas (são provas cabais de que estão teatralizando o estudo dentro de casa e, inclusive, nos obedecendo!). Também não nos esqueçamos de recolher a frequência mandando que eles digitem os nomes (se é que são eles que estão com o celular) no início ou no final da aula. Também não nos esqueçamos de fazer os pais assinarem o termo de responsabilidade, obrigando-se a dizer que agora eles são pais de verdade e que estarão em casa vendo os filhos com uma puta de uma raiva da Globo que convenceu os brasileiros a ficarem em casa e que o presidente é que estava certo sobre a flexibilização que, segundo ele, mataria só os velhos (pô, aturar esses meninos esse tempo todo!?). 
E não nos esqueçamos de que podemos estar nos tornando bons atores da mediocridade e péssimos na construção da educação libertadora de verdade. Já falhamos uma vez. É muito arriscado errar de novo.

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