E rola pelo chão a maldita.
Serpenteia a cauda e estremece as presas. Cabeça quieta, veneno agitado. Língua
tinindo pelo sangue de um fraco. Aquieta-se de novo. Era só um vil rato a
passar, mas ia ao longe. Não valia a ela o sacrifício de rastejar. E descansa.
Agora é mansa e fria. Parece sem
ofensa e sem perigo. Reluz o couro ao reflexo do dia. Reluz o couro ao reflexo
da lua. E ali, queda. E ali, em seu habitat, em seu mundo de serpente,
trança-se. Parece não mais ofender a nada da natureza que ela só vê de baixo
para cima. Vem desde os tempos de Eva e de Adão. Foi a infeliz criatura
testemunha do pecado original. Foi a ambiciosa detentora da árvore da ciência.
E agora...
Agora não conhece mais a ciência.
Mas a ciência deu-lhe a resposta: teu veneno, tua má sorte. Teu veneno, fim do
teu projeto de morte. E ali queda. E ali, retorcida, de corpo para o próprio
corpo, de cabeça para a cauda, fica a serpente e esquentar o chão. A
esquentar-se. A digerir.
Mas no seu entorno, nada é seguro.
Tudo pode ser fulminante. Tudo pode arquejar. Tudo pode resvalar. Nenhum
tropeço é permitido. Tudo é sob os preceitos serpentinos da majestosa figura de
pose ingênua. Nenhum lance lhe é alheio. Nenhum movimento pode lhe ser ausente.
E ali, na forma sinuosa e de
serpente, na forma sem languidez, ela completa o lance do instinto sério, frio
e agudo. Dá o bote!
Foi o rato que voltou.
Mirinaldo, 3 de abril de 2013.
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