Por Mirinaldo
E do amor do Xingu com a jovem Ponta da Serra, nasceu uma filha. Deram-lhe o nome de Vitória. Tal graça foi dada pois os seus pais tiveram que lutar contra a vontade da Cobra-Grande, que era contra a união dos dois. A severa rastejante preferia que a Serra se casasse com Porto de Moz, tanto que deixou até hoje a jovem sob o domínio daquela cidade e, para isso, a bruxa das águas dorme eternamente no fundo do grande rio, vigiando-o para que nunca mais possa se encontrar com a doce menina. Mas o igarapé do Gelo entrou na história e sugeriu os encontros secretos do Xingu com a Ponta da Serra. E o rapaz aceitou: estendeu um braço por entre a mata virgem, rasgando-a por dentro. Chamou-o Tucuruí, o rio escondido, o rio secreto, o cupido do amor desses dois seres. Enquanto a cobra dorme, vivem os eternos amantes a procriar seus inúmeros filhos. E que ninguém a acorde dali. Houve um tempo em que o rio tremeu e, por pouco, a fera não acordou. Graças à Baía de Souzel, o plano dos amantes não deu errado. Ela agitou-se severamente e exigiu do seu esposo, Senador José Porfírio, que tomasse a Praia do Meio de volta e deixasse o Vitsol por conta do rio secreto, ou a cobra acordaria e daria fim aos encontros à surdina dos dois apaixonados. Por isso o evento de verão saiu do Xingu e veio para o alcoviteiro Tucuruí, alojado na casa de sua amante, a Prainha. Mas voltemos ao momento anterior a tudo isso. Muito antes. Depois que a Cobra-Grande adormeceu, Ponta da Serra e Xingu trocaram o nome da filha para Vitória do Xingu. E fizeram isso porque um dia a grande cobra acordará e irá procurar a menina, fruto do amor proibido. Mas vai procurá-la pelo nome Vitória e esperamos que nunca ela entenda o plano e poupe nossa jovem da fúria dessa serpente de olhos de fogo. Mas o que fez a grande peçonhenta dormir? A Praia do Meio. A Praia desejou descobrir o que ocorria com o seu amor não correspondido, o Xingu. Ela veio com a intenção de devorar o Tucuruí, fechá-lo para sempre e manter o seu amante idealizado sendo sugado pelas suas areias e nunca mais ser amado pela Vitória do Xingu. Cobra-Grande entendeu que a grande areia era a supernoite eterna que a estava chamando para o sono secular. E tem dormido até hoje. A Praia do Meio não conseguiu adentrar para sufocar o Tucuruí, porque o Senador a chamou de volta. Mas a Praia rebelou-se e não voltou. E quanto à jovem Vitória do Xingu? (Vitória, para os íntimos). Vive protegida pelo Tucuruí, pelo igarapé do Gelo enquanto vê sua mãe, Ponta da Serra, levar o Sol todos os dias. Hoje é uma jovem de 29 anos. Já tem vários filhos e netos. Alguns ainda moram com ela. Outros aguardam o fim dessa história em algum lugar depois do Sol. Ah, já ia esquecendo: está grávida de novo! E isso acontece toda vez que a Praia do Meio seca, libera as águas do folgado Xingu e este vem se deitar com a princesinha.
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