terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

A SARDINHA E O TUBARÃO



Por Mirinaldo
O desejo de aproximar o Brasil dos Estados Unidos sempre foi digerido na tripa da direita brasileira. E isso só não se concretizou logo porque a gula foi interrompida em 2002, com a vitória de Lula. Prova disso é que, quando houve o golpe para tirar o PT do poder, o PSDB entrou imediatamente no governo Temer assumindo o Ministério das Relações Exteriores, com José Serra. Depois que o partido conseguiu aprovar a liberação para mais potências sugarem a teta do Pré-Sal, retirou-se da base do golpe e foi barganhar a eleição. Ou seja, os EUA estavam habilitados a colocar a mangueira no nosso ouro negro, bastava não haver a esquerda para interromper mais uma vez isso. E as ruas se enchem da elite brasileira, com gritos de “fora corrupção”, uma pele de ovelha com a boca de lobo para abocanhar o poder. Contra a corrupção coisa nenhuma, o negócio era montar logo o palanque para apressar a retomada do Planalto.
E o pato nadou bem, deu certo, a direita chegou ao poder via Bozo. O PSDB ficou “de fora”, mas sua intenção de realizar a política de entreguismo está mais do que garantida no novo governo da moral. Tanto que o Bozinho foi aos States buscar a lição de casa e lá garantiu que o Brasil não será socialista e sim entreguista. Aí vem o Trump e dá aquele elogio à atitude do Bozo por expulsar os médicos cubanos sob alegação de que o Brasil não concorda com o socialismo da ilha. Mas pouco importa o discurso contra socialismo nesse caso, (basta copiar qualquer coisa do Facebook)  porque, afinal, o que está em jogo é fazer o que os States querem. E eles querem afundar a América Latina, tal como vêm fazendo com a Venezuela. Mas precisam de um testa de ferro, ou melhor, uma orelha de burro. Alguém que não se importe com os vizinhos latinos e mande ver contra eles para o regozijo do Norte.
O projeto da terra do Tio Sam é dominar nossa terrinha, mas nenhuma porta lhe foi aberta, isso até a vitória bozista. Isso significa que o novo governo (mais velho do que novo) já se abre totalmente aos mandos norte-americanos e aguarda as suas ordens para liberar os espaços e implementar as políticas neoliberais contra os próprios brasileiros que pensarão estar vivendo uma transformação de país emergente para primeiro mundo, pois perceberão a presença americana física e politicamente aqui. A Amazônia, por exemplo, já está sendo empacotada como presente, pois o Bozo já deu sinais de usar as terras indígenas para implantar megaprojetos e já ofereceu aos índios os espelhinhos modernos de Cabral: royalties (falsos privilégios!), além de partir pra cima do IBAMA para que ele proteja os interesses dos grupos ruralistas e pare com essa de garantir direitos a pequenos agricultores, pois o Bozo já disse que “é difícil ser patrão no Brasil”. E já pra fora o Ministério do Trabalho! As leis também serão alteradas para dar mais chicote aos empresários e mais lombo aos trabalhadores. Até censura ao Enem está vindo aí sob a alegação de que só temas de conhecimento relevante devem cair na prova. Em outras palavras: só o que o Bozo quiser que caia. Aliás, pode cair muita coisa e até voltar o acento de “idéia”.
E tudo isso enquanto assistimos a cenas de um homem humilde, bom e cristão oferecendo cafezinho para chefe de segurança americano, ou comendo cachorro-quente (será que em Marte há cachorro-quente? É preciso de dente para mastigar um cachorro-quente? É normal comer cachorro-quente?) e entregando taça ao Palmeiras, fazendo-nos pensar que ele é tal como nós e nós seremos tal como os States. Em janeiro, já poderemos começar a atirar uns nos outros com a flexibilização do porte de armas, brinquedo que vai fazer os brasileiros se sentirem dentro de uma arena romana (mas inspirada no faroeste caboclo), assim como o cafezinho acima. Já poderemos também dar murros nos professores socialistas, pois também será uma forma de ajudarmos o Bozinho a garantir sua promessa ao Trumpinho e também uma forma de mostrarmos que estaremos resolvendo todos os problemas da educação pela cartilha da depravada Escola Sem Partido, amamentada no seio de orações feitas ao Diabo por políticos pregando evangelismo de quinta categoria, sob a alegação da preservação de valores cristãos de uma elite podre.
E é melhor aprendermos a ser todos entreguistas, pois quando se senta à mesa com Tio Sam, e lhe damos um cafezinho de merda, ele até toma, porque ele sabe muito bem onde está escondido o cafezal. E também sabe quem engole quem quando se trata de um tubarão e uma sardinha sul-americana metida a gringa.

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