Neste mês de agosto de 2016,
completo exatos 20 anos de trabalho como PROFESSOR. Quero compartilhar um pouco
do muito que aprendi no magistério.
1. Aprendi,
primeiro, que aprender só nos deixa com vontade de aprender, o que é um ciclo
que me faz voltar sempre para a primeira pergunta: o que eu tenho que aprender?
2. Aprendi
que os alunos não são nossos, mas que estão conosco, não sempre, mas constantes
em nossa memória. E que cada um é uma lição que nunca daremos por completo. E assim
deve ser.
3. Aprendi
que os conteúdos escolares são vazios porque nós não vemos nada de nossa
essência neles, pois nós nem sabemos ao certo qual é a nossa essência. Nós
improvisamos o nosso próprio “ser professor”.
4. Aprendi
que o companheirismo é produtivo quando todos sabem o que se deve produzir e
conhecem o tempo certo para fazer isso juntos.
5. Aprendi
que o silêncio de um professor é uma aula quando o grito vem do improviso.
6. Aprendi
que as respostas não estão em nossas mãos, nem no nosso coração, nem na nossa
alma, mas sim no trabalho. E as respostas duram menos tempo que as dúvidas.
7. Aprendi
que professor não ensina, pois ensinar é para os sábios. E professor não é
sábio, ele é um servo do sábio: o constante conhecer.
8. Aprendi
que educação não é um ato de amor, pois só conheci o amor plenamente quando me
tornei pai, e não se dá a um aluno o que se dá a um filho. Porém, deve-se dar a
ambos o que é de direito de ambos: o auxílio ao aprendizado.
9. Aprendi
que professor não vale nada para alguns, não interessa a outros, atrapalha
certos e serve a todos.
10. Aprendi
que não existe educação de qualidade, mas sim que a qualidade já é a educação:
ou ela existe ou não existe.
11. Aprendi
que nunca fizeram política para a educação em nenhum momento da nossa história,
pois a educação já é uma política.
12. Aprendi
que nós falhamos porque nos propusemos justamente a fazer o que não sabemos:
ensinar. Pois se tentássemos aprender, então haveria o trabalho para ensinar.
13. Aprendi
que as leis da educação não são dela, pois a educação para ser livre como
pensamos que deve ser, não se impõe, é compartilhada. As leis servem aos que
mandam, não aos que professam.
14. Aprendi
que a única lei que pode nortear a educação é a própria natureza, não como
floresta versus homem, mas como homem
em contínuo à floresta.
15. Aprendi
que a maioria esmagadora dos políticos odeia o professor, porque sabe que é
este que ainda consegue decifrar a torre de Babel que eles criaram.
16. Aprendi
que professor também trai outro professor, porque simplesmente muitos de nós
querem estar onde os corruptos estão.
17. Aprendi
que a política do professor deve ser feita com a mão esquerda, pois a direita
mente, maltrata e é pesada contra todos os que a subvertem.
18. Aprendi
que o professor não deve nunca ler a nossa bandeira como ORDEM E PROGRESSO, mas
sim como SE É PROFESSOR, TEM QUE LUTAR.
19. Aprendi
que as obrigações que nossas autoridades nos impõem, como rigidez de horários e
o preenchimento de fichas ridículas, são uma forma de nos prender dos nossos
pensamentos. Pois, se o professor pensar, ele já muda a si mesmo: essa é a
primeira ameaça aos autoritários.
20. Aprendi
que professor não vota em professor, porque professor não pensa como professor.
21. Aprendi
que os métodos que já vêm prontos nas cartilhas devem ser corrompidos por nós,
pois são códigos malditos para lavar nossas almas e nos tornar bestializados em
uma vida errante e pobre espiritualmente.
22. Aprendi
que o celular na sala de aula só é maldito porque ele altera nossa linha de
trabalho, que não foi desenhada por nós, e que temos temor em cortá-la.
23. Aprendi
que o que mais une os professores são as questões de salário e o que mais
separa são os ganhos.
24. Aprendi
que o professor tem uma tabela de valores feita pelos que mandam no país:
abaixo estão os contratados, os que vestem camisa de força; acima estão os que
devem ser isolados do sistema.
25. Aprendi
que os nossos sindicatos lutam com espada contra canhões.
26. Aliás,
aprendi que o professor vê o sindicato como um
conjunto de outros professores.
27. Aprendi
que a nossa visão de formação dita continuada é exatamente como o nome diz:
continuada (sem o “por quem”).
28. Aprendi
que os nossos salários são o maior indicador de nosso estado de espírito ante o
nosso trabalho. Ou seja, pensamos como os governos que nos pagam mal.
29. Aprendi
que professor não é uma profissão nobre, pois acima disso existe a humanidade.
Se esta é nobre, o professor também é, assim como é a lavadeira e o roceiro. É a
humanidade que todos devem alcançar.
30. Aprendi
que ser professor não é ser um pouco de tudo, pois o tudo e o nada são a mesma
coisa.
31. Aprendi a
filosofar que Paulo Freire é muito mais que um senhor de barba branca. Mas na
minha prática docente e na de muitos colegas só vejo um senhor de barba branca.
Mas é Paulo Freire que adorna minhas epígrafes.
32. Aprendi
que o marxismo ainda é a linha do nosso trem, mas que precisamos de um trem
novo, pois a direita maldita vive a entortar os nossos trilhos.
33. Aprendi
que quando um professor abandona, desfilia-se revoltosamente do seu sindicato,
ele realmente nunca deveria ter estado lá, pois ele pensa como a direita, e o
pensamento da direita nunca pode ser o do sindicato, pois se assim for, o
sindicato não precisa existir, afinal, por que você acha que a direita persegue
o nosso sindicato?
34. Aprendi
que as provas que damos aos nossos alunos têm as questões que nós achamos que
eles devem resolver e não os problemas que eles vão enfrentar de fato longe de
nós.
35. Aprendi
que muitas vezes pensamos que a nossa autoridade ensina e nem percebemos que já
estamos sendo autoritários.
36. Aprendi
que o professor tem, sim, muito respeito de boa parte da sociedade, aquela
porção que concebe o ensino como memorização, mas que não se lembra de nada.
37. Aprendi
que o professor está sobrecarregado na sua jornada diária de trabalho, e que
isso comprova que ele não é meta-humano, é humano mesmo: precisa comer.
38. Aprendi
que o professor, mesmo não tendo obrigação de ser nada além de professor,
tornou-se o responsável pela família dos outros em detrimento da sua, e que
será o culpado e punido por todos os erros que cometer nessa litigiosa adoção.
39. Aprendi
que o “bom” professor que a Rede Globo mostra é aquele que atola o pé na lama
para ensinar seus alunos nos manguezais da vida, justamente porque a imagem
desse professor é manipulada para pensarmos que a nossa prática deve ser a
seguinte: “Te vira! Deixa o Estado em paz”.
40. Aprendi que
muitos são professores para não serem nada e coordenam professores pensando ser
tudo.
41. Aprendi que
professor pode ser um castigo: é quando designam alguém por algum desafeto para
ser professor e este viverá sob o estigma: “Quis ser grande coisa, voltou pra
sala de aula”.
42. Aprendi que
para muitos professores o pior lugar do mundo é qualquer lugar onde se é
professor.
43. Aprendi
que a autoridade de um professor falha quando ele mesmo a quebra por desgaste e
mau uso.
44. Aprendi que
a saúde do professor é poder pagar as contas e não levar falta do sistema
estúpido de ensino. No mais, ele espera a exaustão. Ou a morte.
45. Aprendi que
o pior político é o professor, pois conhece mais dos textos do que dos
destinatários dos textos. Ou seja, está mais para ler que para fazer, já que
também entende o ler como um não fazer.
46. Aprendi que
o professor não é e nunca foi o detentor do conhecimento, mas é sempre quem
pode dar a conhecer.
47. Aprendi que
o magistério não é um sacerdócio, o ensino não é para a vida e a educação não é
a solução dos problemas do mundo, como também aprendi que sem um professor em
qualquer uma dessas instâncias, ela simplesmente não existe.
48. Aprendi que
ser professor é exercer uma vocação sempre inconclusa, é sempre chegar à parte
de um objetivo e é sempre insistir na vocação e nos objetivos dos outros.
49. Aprendi que
um bom professor é o que constrói pontes atravessando primeiro o rio, mas volta
igualmente nadando para que todos possam inaugurar essas pontes juntos e corram
todos os riscos. E daí ele volta.
50. Enfim,
aprendi, nesses 20 anos, que eu ainda estou procurando um rio.
Mirinaldo,
pelos meus 20 anos de “disdocência”.
05 de agosto.
Belíssimo texto professor!
ResponderExcluirParabéns por está firme nesse 20 anos de profissão.
Me sinto privilegiado por ter sido seu aluno (Edmilson Junior)
Obrigado. Sinto muito orgulho de você também. Um abraço.
ExcluirParabéns! Um extraordinário professor que aprende sempre e que nunca deixa de ensinar!
ResponderExcluirObrigado, grande mestre. Grande inspiração para muitos professores, entre os quais me incluo. Um grande abraço!
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