sábado, 14 de maio de 2016

GRAMÁTICA PRA SALVAR O BRASIL?



Uma página coxinha no Facebook está participando “ativamente” por um Brasil “sem” corrupção e “com” desenvolvimento. Há na página dois argumentos para isso: o primeiro diz que as coisas começaram a melhorar (e colocam a foto da mulher de Michel Temer). O segundo é o que eu vou discutir aqui. Comecemos com a postagem publicada:

“Não é emocionante gente?
AQUELE MOMENTO EM QUE O PRESIDENTE FALA O PORTUGUÊS CORRETAMENTE USANDO O PLURAL SEM GAGUEJAR PELA PRIMEIRA VEZ EM 13 ANOS” (ao lado, uma foto de Michel Temer).

Em outras palavras, se um presidente “domina” o “português corretamente”, estaremos felizes, certos de que o Brasil está em boas mãos.
Aí eu pergunto: você conhece alguém que fale o “português corretamente”? Mais uma pergunta: você sabe o que é um “português corretamente”?
Não perca seu tempo. Você nunca vai achar quem fale o “português corretamente”, uma vez que até hoje os gramáticos e os linguistas não sabem definir o que é esse tal de falar “corretamente” e nem se ele de fato existe. Temos então a primeira asneira sobre política usando a nossa língua. Ou, usando uma palavra de um dos maiores linguistas do Brasil, Marcos Bagno, isso é um mito.
Não há em toda a terra, nem na história da humanidade alguém que tenha falado o “português corretamente” (com aspas). Mas, pasme, todos os que falam português, falam o português corretamente (sem aspas). Como assim? Falar, por si só, já é um ato correto, funcional, ativo. Quantos falam português no Brasil? Não sei exatamente, pois ainda temos as línguas indígenas, algumas línguas europeias e outras mais. Mas afirmo: os que falam português aqui ou em qualquer lugar, falam corretamente. Com diferenças, mas corretamente. Eu sei que a página do Facebook está tentando nos enveredar para uma forma (entre centenas!) de falar o português: a padrão. Aquela baseada na gramática normativa. Aquela ensinada nas escolas. E volto a perguntar: quem fala daquele jeito que está nos manuais didáticos? Não responda que é o professor! Ninguém o faz sem um contexto muito específico, mas muito específico mesmo. E, quando se atrevem a fazê-lo, fazem baseados na escrita, ou seja, o texto é escrito antes, decorado ou lido depois e qualquer improvisação de fala fora dessa escrita é uma aventura. E o texto escrito não é certeza nenhuma de estar “correto”.
Nem vale a pena questionar se Temer sabe ou não gramática sem ter um texto escrito antes (o que garanto que não sabe), mas vale muito a pena questionar por que tamanha asneira é usada como se fosse um argumento dos mais validados possíveis para justificar que Temer fará um bom governo pós-golpe pelo fato de alguém supor (eu disse: supor! Ou mesmo perpetuar um preconceito!) que ele fala “corretamente” o português. E mais ainda: que faz treze anos que não se ouvia isso. Na verdade faz treze anos que os donos da página não estudam gramática alguma. E mais: se Temer não gagueja quando fala, isso não altera o preço do dólar, nem do barril de petróleo. Se ele fez o plural (o que tenho certeza que não acertou todas na linha da gramática normativa) ou não, isso não traz de volta os empregos, tampouco faz ele exonerar os ministros citados na Lava Jato. Nem conte com a possibilidade de que Temer fale bem o “português corretamente”, pois estaremos fritos. Avalie a política como ela é. O melhor presidente que o Brasil já teve (falo com base em pesquisas) não tem nível superior algum. Já o que tentou vender o Brasil para os Estados Unidos, via FMI, a preço de banana, fala cinco idiomas e é sociólogo conceituadíssimo.
Ou seja, não saia do foco, não tenha medo de discutir os problemas do Brasil. Use a nossa língua para isso. Mas não a use como se ela fosse um fator isolado de você ou cristalizado numa torre de marfim. Não adore a língua, seja a língua. Você é parte dela. E se você vai comprar ou vender a ideia de que a gramática vai salvar a nossa pátria, lembre-se: os próprios políticos não estão nem aí para isso. É você que está perdendo tempo, enquanto eles decidem a sua vida. E então, vai ficar tentando acertar questões de gramática ou vai usar a sua gramática para discutir o Brasil?

PS: Só uma brincadeirinha de gramática: os donos da publicação esqueceram uma vírgula. Meu Deus! O Brasil está frito! Ainda bem que não foi o Temer!
Mirinaldo

O amarelo tucano e o ouro negro do pré-sal




Todos os ministros (homens brancos e ricos) de Temer têm um papel na consolidação do golpe e a função de apresentar resultados fantasmagóricos ao país de uma possível saída milagrosa para a crise econômica e política (com mitológica base sustentável) mostrando que governo bom quem faz é homem e não mulher. Mas, acredite, o papel de José Serra chega a ser o mais demoníaco. Para mim, a função dele é a mais terrível e abominável de todas. Serra como ministro das relações exteriores não é mera nomeação de Temer, muito menos uma forma de acomodar o PSDB no governo do golpe, como recompensa pela saída de Dilma. Não há nada de inocente nessa nomeação.
Serra, em nome do PSDB, é o autor do PLS 131/2015 que estabelece que a Petrobras não seja a única empresa a explorar o pré-sal, o que incluiria uma abertura para a participação de empresas estrangeiras. Acontece que nessa participação só há um agente interessado: os Estados Unidos. Desde o governo FHC, o país já pleiteava alcançar nossas riquezas o que começaria pela implantação da ALCA, o que o PT não aceitou fazer, pois nossas matérias-primas sairiam a custos baixíssimos e o Brasil seria um polo estratégico de dominação da América do Sul pelos norte-americanos. Perderíamos nossa autonomia.
O papel de Serra consiste em isolar as opiniões e participações político-ideológicas dos países nossos vizinhos, tornando-os nulos e imprestáveis para qualquer participação mais significativa. Tanto PMDB quanto PSDB sempre primaram pelo isolamento dos países sul-americanos, já que a política deles não se alinha aos interesses do tio Sam e os partidos de direita daqui pretendem americanizar/internacionalizar nossa economia e política, o que já chegaram a fazer quando se montou o Plano Real a partir das ideias do economista inglês John Maynard Keynes (que aqui a Globo fez a gente pensar que foi FHC o autor original do plano).
Eu já disse outra vez que a crise no Brasil não surgiu por acaso, o que eu quis fazer foi justamente estabelecer sua origem em algo que já desperta o interesse estrangeiro: petróleo. Com o poder que tem agora, José Serra poderá avançar na pretensiosa corrida para abrir as portas, as janelas e o pré-sal para o capital estrangeiro. Colocaram a raposa junto com as galinhas.
Agora resta acompanhar reflexivamente o processo de como isso se dará. Digo reflexivamente no sentido de não engolir o que a Rede Globo vai tentar nos passar de que essa abertura para a exploração do nosso ouro negro é necessária para a salvação do país (país como sinônimo de governo golpista de Temer). Preste atenção como aqui não vai interessar o espanhol, mas o inglês do Norte.
Mirinaldo