sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

COMO SE FAZ EDUCAÇÃO?




Muitos vieram antes de nós e se propuseram a fazer o que pensavam ser a educação. E surgiram as tendências. Tendências estudadas, amadas e odiadas por nós da Pedagogia. E muitos erraram tanto. Outros tantos desleixaram. A maioria não quis fazer e alguns ousaram pensar e agir. Mais agir que pensar.
Muitos chegaram até nós e disseram que educação se faz com amor. Mas nunca amaram. Muitos chegaram até nós e disseram que educação se faz em conjunto, mas sempre se isolaram. Muitos chegaram até nós e disseram que educação se faz com compromisso, mas se esquivaram de tudo. Muitos ainda nem falaram nada. E nada fizeram.
Ainda, no nosso recente passado, muitos administraram a nossa educação e dela fizeram seu lazer, sua aventura, seu calabouço para torturar e humilhar a nossa categoria. Ainda nos mandavam fazer o que eles nunca souberam e nunca, jamais conseguirão fazer. Muitos perseguiram o quanto puderam, o quanto quiseram, o quanto puderam fazer de seu sadismo a sua diversão.
Houve os que nos lesaram, levaram-nos ao desespero, à loucura, ao desânimo, à decadência. Eles nunca nos deram ânimo. Deram, sim, ordem. Nunca nos deram estímulo e sim penúria. Nunca sequer nos abraçaram, apenas nos comprimiam e se diziam donos da situação.
Às nossas crianças deixaram o mínimo. Elas nunca nem significaram nada. Foram a escória da educação, daqueles que pensavam em educação sem crianças.
E houve um tempo. Uma era. Um momento obscuro que até, em seus detalhes, faria desanimar esta festa. Mas houve. Aconteceu. E nós o vivemos.
Esse tempo, essa era precisam ser lembrados, para que o futuro nos preserve de tal mal, de tal maldição. Foi uma era em que pessoas que se intitulavam poderosas e acima de tudo e de todos, carregadas de ignorância, chicotearam os trabalhadores em educação nos quatro cantos deste município. E nos fizeram penar. Sofrer. Sentir dor. Verter muitas lágrimas. Sucumbir. Ninguém que deveria ser erguido conseguiu sê-lo. E foi instalado o circo dos horrores. E vieram as filas malditas dos pagamentos. E vieram os atrasos. E vieram os arrochos, as perdas, os inexplicáveis descontos, as demissões, as retaliações, as perseguições, as intransigências, o autoritarismo, o sadismo e... a mediocridade.
Nenhum sonho parecia ser possível. Nenhuma esperança parecia querer dar o ar de sua graça. Nós éramos uma ilha atacada por cobranças imbecis de todos os lados, em que o único objetivo era que alguns se satisfizessem às nossas custas.
E o pior de tudo: ninguém daqui, deste chão de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, desta terra onde “O seu verde é tão lindo”, do rio de nossas pescadas, das águas xinguaras da Missão de Tavaquara, absolutamente ninguém emergiu a nosso favor e ninguém assumiu a nossa história conosco. Eles queriam a torre de marfim, mas nunca cavar juntos para achar novos tesouros.
Que tempo lastimável! Alguns poderiam agora, neste momento, vir até aqui, arrancar este microfone e bradar: nós não tínhamos condições. E eu digo: não tinham compromisso, aquele ingrediente que transforma bem o dinheiro, que aplica com correções e promove as pessoas. Pois nós sempre fomos soldados a postos para uma boa luta. O nosso problema? Os comandantes fracos.  Fracos para o trabalho; espertos para os seus interesses e nomes.
Nomes que devemos lembrar para não punirmos mais a nossa história. Pois novos ventos vêm a nosso favor.
E chega. E basta. E é enfim o fim.
Nessa história toda fica a triste constatação: nenhum dos nossos comandantes fez a educação nessa era maldita. Que nunca os homenageemos. Que sejam esquecidos para sempre.
Pois vem, por fim, um novo momento. Abrem-se novas portas. Alargam-se horizontes. Ou melhor: criam-se os horizontes que nos convidam para uma nova página, para um novo agir e pensar.
Que as ditaduras não voltem nunca mais. Abram-se as cortinas para vermos um novo tempo. Vermos não. Participarmos. Sermos ouvidos. Sermos parte. Sermos um componente do novo significado.
Ouvi outra vez alguém dizer que a educação nunca está boa, está melhorando. Concordo. Se posso dizer que a educação é boa, então ela não precisa mudar e eu não preciso fazer nada. Porém, a educação não pode estatizar, ficar no tempo atrás de nós. Ela deve ser sempre contemporânea, ágil e dinâmica. Mas para isso, todos os seus motores precisam trabalhar. Todas as peças precisam ter igual importância, ser cuidadas e cobradas conforme sua função. E, voltando à comparação anterior do combate, a educação precisa de comando. Não bruto. Não de chefe, nem mesmo de secretário de educação não precisamos. Isso mesmo. Secretários de educação temos muitos pelo Brasil. Líderes, só alguns.
Bons líderes abrem novas eras. Bons líderes fazem até as plantas esverdearem quando secas. E isso não é magia. É liderança. O líder pode estimular o jardineiro amargurado a regar a flor do jardim esquecido. O líder pode animar o cego e fazê-lo perceber as coisas como elas são ou como poderiam ser. Um líder pode fazer um livro empoeirado na estante ganhar brilho através dos olhos das crianças. Pode fazer uma música passar a ser ouvida e apreciada. E tudo isso sem magia. Sem gritos, sem exibicionismo, sem pressão e força bruta. Apenas com motivação.
Com esse líder, podemos mirar além, muito além do horizonte e persegui-lo para ultrapassá-lo. E quando se trata de educação, realmente podemos afirmar que ela não está boa, está melhorando. É isso que é fazer educação. Nunca parar. Nunca desistir. Fazer sempre.
E nós aqui, professores, serventes, vigias, merendeiras, coordenadores, diretores, pais e, principalmente alunos, temos você, LEANE, a nossa líder.
Você começou uma nova era. Você não deixou a educação parar, mesmo sem a função de secretária. Se você não fosse professora, seria educadora sempre.
E por isso, por sua liderança, por sua leveza ao lidar com os fatos e com a pessoas (mesmo sendo enérgica, você não embrutece), por sua dinâmica e ação de compromisso com a educação e não com bandeira política, queremos homenageá-la nesta noite e agradecer-lhe por não ir sozinha em busca do novo, mas de sempre nos convidar a estar juntos, a nos animar e a nos orientar no rumo certo, principalmente por se tratar do maior bem imaterial do ser humano: a educação.
E queremos dizer ainda que esperamos que você continue firme nessa função e mostrando que o rumo é este. E que não queremos que volte jamais a educação dos séculos passados, dos chefes, dos donos dos cargos e das pessoas. Queremos manifestar nosso apoio a você, ao seu trabalho, à sua conduta ética com os recursos públicos e com as relações interpessoais, sendo esta a que você prima. Queremos copiar de você algumas reflexões, como por exemplo: “sempre é possível”, “dá de fazer”, “vamos inovar”, “vamos correr atrás”, “vamos tentar de novo de outro jeito”. Ou seja, são frases que provam que você não deixa a educação parar.
E mais, em nome de todos os funcionários e funcionárias da educação deste município, gostaria de dizer que, neste momento, até que se finde a sua missão na atual administração, não conseguimos imaginar este governo, O progresso é para todos, sem você como nossa secretária.
Com você fica sempre a certeza de que não vamos parar, de que vamos errar, mas nunca vamos ficar presos a erros e a desânimos e que vamos rumar ao horizonte conquistando e fazendo novas fórmulas para que possamos dar sentido ao seu lema: A educação faz a diferença. A educação faz sim toda diferença, desde que não pare e fique para trás e sim que siga transformando a vida dos vitorienses, a cada dia, a cada ano. Obrigado, LEANE, por nos conduzir a uma nova era chamada: A EDUCAÇÃO NÃO PARA DE MUDAR!
Mirinaldo, 19 de dezembro de 2013.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Não poder dizer





Não poder dizer
É ser você mesmo.
Dizer é permitir aos outros
Que o invadam.
Que o conheçam.
Que o matem a cada dia.
Dizer é perder a vergonha.
É não valer, a essência, a alegria.
Quem tanto diz não se ergue.
Dá falsidade de si.
Mente aos outros e não se conhece.
Vive do vive,
Só vive assim.
Não poder dizer é essência.
É puro néctar da existência.
É conhecer-se até o fim.
É passar pelos homens
E vê-los
Menores do que são.
É manter a razão.
É viver por merecer.
É ler a própria mão
E ver quão belo é a si.
Não dizer é levitar o mistério,
É pôr algo sério
Naquilo que se é ser.
Dizer é querer ser.
Não dizer é ser.
Não dizer não é se matar.
Não é se humilhar,
Nem padecer.
Não dizer é resguardo
Do parto.
É preservar o ato
De se conceber.
É não ceder à existência,
É ignorar a insistência
De quem quer saber por saber.
Não dizer é ter-se.
É merecer-se.
Acabando por tudo merecer.

(Mirinaldo)

O silêncio me leva...





Como já expressei outrora:
Meu amigo é o silêncio,
Pois carrega o que penso
E me faz sentir mais eu.

Ele então por minhas mãos,
Forte, firme e audaz,
Me leva, balança e traz
Por caminhos muito bons.

Combina a sofrida alma
Que por fora é alegre,
Mas que o barulho persegue,
Dando-lhe dura missão.
Constrói toda minha razão
E me permite mandar, mudar,
Amar e sonhar
Fazer tudo que eu quero.

Até meu coração,
Um louco, duro e sofrido,
Ganha como criança um amigo
Que lhe faz a fantasia.
Então minha alma cria
Os meus fatos de viver.
Tudo pode acontecer.
É minha verdadeira vida.

O silêncio não me leva
À madona utopia.
Isso é luta do dia,
Eu sou da razão da noite.
O silêncio só me leva
Ao que há dentro do meu eu,
À essência do que é meu,
Ao menos por fantasia.

O silêncio me faz longe,
Às terras de alto grito,
Às nuvens de algodão,
À deusa do Nilo, no Egito.
Me faz perfeito em tudo,
Me faz crescer, ser sisudo,
Até perder a razão.

O meu sangue corre fresco,
Minhas pernas ganham força,
Vejo olhos me pedindo,
Um soluço, uma bolsa.
“Fuja comigo do mundo”
Até isso dizem: “Ouça!”.

É meu silêncio amigo
Que me tira do perigo
Desse mundo sanguessuga.
Onde ninguém me ajuda
A viver do jeito meu.
Depois que a alma for embora,
É bom que morra quem chora:
“Ai, morreu, nada me deu!”.

(Mirinaldo)

O meu dom



 
Pensar é amar.
Sentir é amar.
Mas tudo isso
Nada é se não posso guardar.

Tenho um dom em mim.
Não em minha vida.
Minha vida não tem dom.
Meu dom é ser dentro de mim.
E se nada mais é assim,
Nada mais importa.

Aprendi a prender-me.
Até que é bom.
Pois, prender-se é amar-se,
É manter-se com o dom.

Há uma coisa que aprendi:
A vida só tem uma beleza:
A falsa certeza de ser alguém.
E falsa também é essa tal beleza,
Pois se nada é certeza,
A matéria não convém.

Meu dom é o silêncio.
Único inocente no mundo de ilusões.
“Quem cala consente”,
Quem crê nisso mente,
O silêncio é agente
E muito bem sabe ser.
Pois permite as permutas,
As lutas, as causas puras,
Que ninguém pode entender.

Entender o sentimento,
Em qualquer das dimensões,
Burras são as razões
De quem cogita assim.
O silêncio somente sabe,
Pois consegue isso ver,
É o único visionário
Do que nem pode acontecer.
Eu amo o isolamento,
A matéria do silêncio, pois
Se me afasto tombo
Do falso reto que sou.
Aí morre todo amor
Que o mundo a mim atribui.
E então nada possui
Todo amor que era meu.

Prefiro nada falar
Se meu dom já é calar,
Pura graça de viver.
O mais por acontecer
Me tortura e me desfaz,
Matéria é tudo fugaz,
Para mim isso é não ser.

(Mirinaldo)