As recentes
manifestações populares que ocorrem em diversas capitais brasileiras são a
consequência de um processo político decadente, fracassado e maltratado pela
pesada prática da corrupção e da política colonial ainda arraigada nas veias de
homens insanos e que pensavam que o povo estava sob controle midiático da Globo
e de falsas ideias como “O país do futebol, do carnaval, de Pelé, de Neymar”.
Esse país não dá mais certo. Nunca deu. Esse país está sendo contestado nas
ruas, o lugar mais legítimo para o povo reformular as ideias nacionais e pedir
reformas políticas realmente significativas.
Uma coisa já se
pode dizer que está bastante clara: o povo não é mais o mesmo, pena que o
governo, sim.
O brasileiro já
não é tão amante a futebol como antes, não vê novela só por ver, não ouve
música só por ouvir, não vive só para sambar. Ouvi estes dias uma propaganda
que ainda usa uma frase arcaica referindo-se ao Brasil como a “pátria de
chuteiras” (“Somos a pátria de chuteiras”). Quem ainda procura pregar isso com
toda a força achando que ideias abstratas como essas significam algo imensamente
importante para o povo? A resposta é simples: a mídia e o governo.
Como a mídia
atende aos interesses do governo, acaba por fomentar ideias vazias como essas e
se esquece de que algumas atitudes andam acontecendo e sendo alimentadas por
ideologias socialistas e comunistas bastante fortes.
E sabe o que está
movendo a cabeça das pessoas? A educação!
Sim, o aumento do
número de jovens nas universidades, exercendo um grau maior de leitura,
pesquisa, investigação, trocando ideias mais elaboradas e “limpas” da manipulação
midiática, cria o laço da intelectualidade, ou seja, mais pessoas estudando
resulta em mais pessoas pensando e ainda: mais pessoas se mobilizando.
Como o governo
investe (mal) em educação apenas para manter os serviços básicos (precários)
funcionando, e, crente ainda de que a mídia assumirá seu papel injetando boas
novelas, bom futebol, criando falsos ídolos, como Neymar, enfim, vai manter o
povo sob a rédea da ideologia dominante, então o governo relaxa. Mas a educação
não se restringe ao âmbito da sala de aula, portanto, a ideia do governo se
fecha e a do povo se abre, pois outros fatores, como a dor do abandono social e
a continuação da corrupção ferem o povo diariamente e o tronam um ser de fora
do processo político que a mídia diz estar sendo construído no país.
O governo,
acreditando ter tudo sob controle, investindo nos salários exorbitantes dos
deputados e senadores, dando regalias a políticos e alterando leis importantes
(como diminuir o poder do Ministério Público), apela para a megaprodução de uma
imagem falseada do Brasil lá fora e chama para si a responsabilidade de
realizar eventos de altíssimos investimentos, não alterando, para melhor, as
políticas sociais e essenciais para o povo. Este, não vendo melhorias para
aliviar sua dor social, sente-se ressentido, mas sem poder de mobilização.
Porém, o poder
emerge do meio deste mesmo povo, através da intelectualidade de seus estudantes
e da mobilização pelas redes sociais, outra coisa que o governo não controla
totalmente e nunca vai conseguir fazê-lo. As pessoas que estão nas ruas são o
resultado de anos de reflexões acadêmicas e também de experiências com a
internet e que, por isso, conseguem ter o poder de refutação e embate com o
governo que as oprime. Essas pessoas representam, sim, o povo, pois pertencem a
ele, apenas com um grau maior de discernimento. Essas pessoas não vivem para
acreditar totalmente nas novelas, não aceitam que o governo inverta as
prioridades e, contra vontade do povo, gaste com futebol mais que o necessário,
apenas para construir a bela imagem do país.
Aliás, essa coisa
de país do futebol, do carnaval, do samba, das novelas, é tudo invenção
midiática e o povo, antes desprovido de discernimento, comprou essa ideia a um
preço muito alto, pois acabou por ficar de fora do verdadeiro processo
político, pensando estar vivendo uma democracia plena (apenas por votar).
Mas agora, o
intelectualismo desse povo pode promover e pressionar para que as forças
políticas se desmanchem e haja uma reforma política enfim participativa.
Mas há ainda uma
coisa um tanto engraçada. Ouvi uma repórter afirmando que os políticos estão
perplexos com o que está acontecendo, que não viram nenhum sinal de que isso
aconteceria e de que forma também. É mais um resultado do reflexo do abandono
aqui já abordado. Por um lado, é certo que os políticos fossem surpreendidos,
pois sempre ficaram cientes de que estariam imunes à Inteligência do povo
(imaginavam esse povo até sem inteligência), crentes de que esse mesmo povo
dar-se-ia por satisfeito com as migalhas de programas assistencialistas e
ficaria quieto, por assim dizer, até a volta do processo eleitoral, quando as
promessas retornam apenas como promessas novamente e o processo político criado
por eles seria religiosamente mantido (com o trabalho da mídia, claro, paga
para esse fim).
Mas, por outro
lado, os políticos se esqueceram de que eles fazem parte de um processo
político que gera a miséria do povo: a corrupção. E que miséria gera revolta.
Assim como uma pessoa pode roubar para não passar fome, o povo pode se revoltar
para não querer mais ser lesado e ser submetido a um espetáculo de gastos que
zombam dele e nada lhe trazem de melhoria social. Isso é resultado do
comodismo. Do conforto da vida boa que os políticos têm.
Enquanto os
homens de Brasília fazem vista grossa, a Globo investe nas imagens da copa e o
governo não aumenta um centavo nas áreas sociais, o povo está nas ruas e lá
deve continuar para que todos entendam que as reformas devem priorizar o
brasileiro e não a bola, a vida social do povo e não os estádios, pois o Brasil
não é mais o país do futebol, Neymar tem apenas fama, as novelas não mudam a
cabeça da população como antes e a mídia precisa ser criativa para lidar com as
massas ideológicas que agora se manifestam e não acreditam mesmo que futebol e
carnaval sejam a solução para o nossos problemas.