sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

O OUTRO LADO DA LUZ


 
Por Mirinaldo
 
Em todo lugar da Terra pode haver luz. O Sol nos brinda com ela e nós a produzimos nas lanternas, no fogo, nas velas nas telas. Nossos olhos se enchem de luz. Por eles ela nos atravessa e converte as formas que constroem, para nós, a nossa inteligência. A luz serve a todos, até aos que fazem maldade. Ela pode estar na lanterna de um ladrão ou no foco de um médico em uma consulta. Luz é luz. 
Deus-Homem já disse uma vez: “O Sol brilha para todos”. Então, estamos sob a sua luz. Como a usamos é como decidimos viver.
Porém, há um ponto tão escuro em nós onde a luz não se abriga. Nesse ponto só há sons. Pulsar. Latidos. Vibrações. É o ponto do coração. A luz do mundo não o avista. Abstém-se de molestá-lo. Deixa-o só. Apenas um mal pode permitir que a luz o veja: a doença que leva à cirurgia. Saudável, um coração não se mostra. Daí vira metáfora: terra, amor, paixão. E recebe títulos e prêmios pelo que não é: não é terra, não ama, não se apaixona. É um símbolo. Um símbolo sem... luz.
Daí a luz, inconformada com tal restrição, infringe os sentidos literais e a ciência e recria-se em uma forma única: SENTIR. O sentir se camufla e afeta todos os seres por dentro. Ilumina-os nas áreas onde a luz do mundo não chega. O sentir clareia o coração e é o único capaz de vê-lo sempre e sempre. Ela se apaga quando a luz do mundo se esvai da natureza humana. Fora isso, o sentir é luz sem ciência, pois não precisa dela.
É por esse lado da luz que eu me mostro e te vejo. Mas só se permite que tal ato se efetive quando alguém sabe que eu estou no mundo, porque o que eu sou só se conhece pelo lado oculto da luz. A minha luz. A tua luz. E somente uma luz perpassa pela minha luz e pela tua luz: a divindade. É no entrecruzamento delas que se cria o amor verdadeiro. Mas amor não tem a luz do mundo, nem daqui ele é, ele é o equilíbrio de todas as luzes. Por isso, explica-se Jesus. Por ele, uma luz vive na outra. Por ele, sabe-se o que é Natal. 
Se quisermos ver quem cada um é, é preciso que consigamos atravessar a luz do Sol, a luz dos homens e chegar à luz divina e dela retornar ao Sol. 
Se conseguirmos, isso é Natal, do contrário, são só árvores piscando... piscando... piscando...

Desocultemos nossas luzes entre nós.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

À décima quinta hora



Por Mirinaldo 

E cá está este humano ante ti. 
Cabisbaixo e apreensivo,
Solícito por teu amor e inspiração.
Sim, quero tua inspiração. 
Sou eu aqui,  Senhor, 
O homem das salas,
O homem das aulas,
O homem com um mundo nos ombros. 
Eu sou o que ensina 
O que estuda, 
O que sonha. 
O homem que abre os livros e diz: eis o mistério revelado do saber. 
Eu sou o homem  das mentes brilhantes. 
Eu sou o polivalente, 
O crente, 
O ateu. 
Ainda assim e,
De todas as formas, sou teu. 
Sou o que estou contra as paredes,
As mesmas onde rabisco letras de pensar. 
Lá estou também 
Sob intensos sacrifícios. 
Lá também estou 
Sob o martírio dos incrédulos,
Sob a falta de empatia dos soberbos e sob 
Os risos dos fascistas e nazistas aqui plantados. 
Eu sou o que 
Explica os erros da História,
O que se desvia 
Da ignorância dos poderosos 
E agora eu sou o que 
Se apega à sorte 
De estar... vivo após um "bom dia".
Eu sou o último da fila 
Da esperança 
De nações pobres,
O que está longe 
Dos filhos próprios 
E constantemente 
Perto dos filhos 
Da minha devoção de sala. 
Sou eu, Senhor, 
Junto contigo,
Sob estes pregos 
Ensanguentados Desta cruz que ainda mata os oprimidos e fracos em nome 
De Deus. 
A ser flagelado 
Pelo ódio do mundo. 
O mundo que eu,
Letra a letra, 
Sonho por sonho, 
Voz e olhares, 
Pretendo que seja 
Devolvido a ti
Conforme tua vontade. 
Não permitas, Santo deste madeiro,
Que a minha voz se cale 
Do ofício a ela dado. 
E que esta dor  cesse 
Assim que o mundo 
Souber para que 
A ele foi 
Enviado...
Um professor.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Caro amigo

Por Mirinaldo

Caro amigo.

Você não está mais o mesmo. Foram quatro anos terríveis. Lombo cansado. Injustiçado, desvalorizado, tido como um subversivo, um vagabundo, um esquerdista, um lulista, um preguiçoso, um comunista, anticristo, apoiador de banheiro unissex, divulgador de ideologia de gênero, de kit gay, influenciador do aborto, acusado de combater os terraplanistas, os evangélicos, um defensor da ciência e tido como um terrível possuidor de intelecto. Enquanto os ossos eram cobertos pela terra sob aplausos dos homens “de Deus”, você teve que aprender a usar tecnologias e a fazer o que não sabia fazer para levar o saber a quem mais precisa: os pobres. Sim, os pobres, esses precisam saber para agir sobre suas indignidades, para que seus ossos sejam respeitados e nenhum riso seja dado para zombar dos mais de cem mil famintos nesta pátria de bandeira roubada, estuprada, vitimada pelo mais alto teor da imbecilidade da História. Quanta destruição foi posta em seu caminho? Incalculável. Nunca se andou tanto para a Idade Média. E você disse tantas vezes que deveríamos evoluir, buscar a luz do saber. Quantos evangelhos podres foram criados? Dois, um da prosperidade, para os ricos, e o do ódio, para doutrinar alguns (eu disse alguns) evangélicos a combater petistas. E você disse tantas vezes que a religião poderia ser uma forma de condenação e que nós não deveríamos nos prender uns aos outros e não  subjugarmos a nossa fé à vontade e comando de um insano e anticristo de verdade. Você disse e mostrou que as ditaturas matam e que matar fere os direitos humanos. Mas agora você terá de reconstruir essa ideia em que milhares se afogaram sob a ilusão dos golpistas. Como você vai explicar agora que Deus é uma coisa e que Bolsonaro é totalmente outra se muitos já os tornaram uma coisa só? Não diga nada. Fique quieto quanto a isso. As religiões matam. Você vai querer matar também? Vai assassinar Jesus  Cristo? Se não,  então continue no deleite da nossa carta maior, mantenha-se no laicato e não seja um ditador da fé. Isso cabe aos fariseus modernos. Você deve se manter na ciência, na razão, nos princípios de humanidade. Professor não prega fé. Presidente não prega fé! VOCÊ AINDA É O GUARDIÃO DA SABEDORIA. Você é quem vai ajudar esta pátria a se reconstruir ante a lama  criada pelo golpismo. É você que vai nos levar a revalorizar a nossa camisa, a nossa bandeira, sequestrada pelo fascismo que ora está aí e não foi capaz de desenhar uma bomba como seu símbolo. É você que vai fazer os direitos humanos serem reconquistados e tidos como o norte desta nação. É você que vai estar ao lado dos alunos nas conquistas deles rumo à universidade quando ela voltar a ser do povo. É você que vai ajudar o país a reverter a ideia de que “não estudar é que vale a pena”. Saiba que a sua sala de aula pode ter sido o único lugar deste país onde o bolsonarismo não entrou. É o perfeito escudo da democracia, ódio  mortal de decrépitos. Na porta da sua sala, o fascismo morrerá, pois ele não sobrevive ao gigantismo da ciência. E você é o difusor dela. Você a protegeu contra todas as demagogias abutres, tanto políticas quanto religiosas, nesses quatro anos. Sinta-se vencedor. Você já chegou até aqui. Chegou ferido, mas muito  forte. Ninguém faria isso melhor que você. Ninguém. Obrigado por ter ficado firme do lado certo, do lado da justiça social, da solidariedade, da ciência, do respeito a todos, da paz, do amor e da democracia. Receba os ataques e devolva-lhes a lucidez que é a sua marca. A ignorância pode até ser financiada e sistematizada, como agora está, mas nunca, jamais conseguirá sucumbir a inteligência que só pertence aos homens brandos e sábios, pois, no final, os fatos sustentam os argumentos dos bons homens e somente estes podem abstrair a exata compreensão sobre esses fatos. Os ignorantes, quanto a isso, só terão o instinto de se imaginar sábios e santos. Você, professor, mostrou que a sabedoria e o conhecimento são realmente fontes em que se deve saber beber. Assim como também sabe que tudo isso que você tem será de todos quando todos voltarem à razão de si, da verdadeira fé (do verdadeiro Evangelho) e do seu país. 
Vá. Siga, grande guerreiro. Sábio guardião do saber. Erga-se, bata em seu peito e diga neste seu dia:
EU SOU PROFESSOR DO BRASIL! O PROFESSOR DA DEMOCRACIA!

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

SOBRE O QUE ESTÁ MUITO ALÉM DESTAS ELEIÇÕES

Por Mirinaldo
                                                                                                                                                                       1. ESTAS ELEIÇÕES NÃO SÃO SOBRE LULA E BOLSONARO. São sobre a democracia versus o golpismo. Como Bolsonaro representa o golpe, então ele é quem deve sair e responder por seus crimes contra o país e contra os direitos humanos. Ninguém encontrará o terceiro lado votando em Ciro ou em Tebet, o voto neles é favorável ao genocida. Há quem vá votar em Simone Tebet por questões feministas. Não há tempo nem lógica para isso. Não é a eleição do negro, ou do homossexual, ou dos indígenas, ou da mulher, ou do pobre. Explico: esses todos já estão representados na democracia, todos eles dependem dela. Agora a bandeira é uma só e DEMOCRACIA é o seu nome. E Lula a representa. Os que defendem Bolsonaro estão cientes de que pretendem um país de perseguição aos brasileiros opositores a um regime totalitário, embora mintam até a morte que estão defendendo um país justo, de família, de pátria e de Deus. Tudo farsa. Esse país não existe. É preciso absorver toda a tolice da Terra para conceber essa psicopatia. Ou é democracia ou é golpe. E golpe não é paz nem amor, muito menos cristianismo. Golpe é sadismo, morte, tortura, terra sem lei, nação submissa à vontade de um ditador em que até “Deus” seria subjugado à vontade de tal insano. Um ditador também imporia a forma de religião. E acreditem: há quem tenha essa esperança demente de que haja somente uma forma de crer, uma religião para calar as vozes das outras. Somente um ditador daria tal gozo a líderes religiosos rasos de cabeça oca, mas sedentos por poder político. 
 
2. BOLSONARO VENDEU PEIXE ESTRAGADO. E ALGUÉM O COMPROU. Uma boa parte do eleitorado bolsonarista é de evangélicos ultraconservadores. Ele sabia disso. Inclusive muitos pensam que ele é evangélico. Porém, o peixe que ele vendeu está estragado. Bolsonaro entrou na onda do evangelho da prosperidade, criado nos Estados Unidos na década de 1930. Esse evangelho falso se pauta na conquista de riquezas terrenas e flerta com o capitalismo que também prega essa linha de pensamento. Para esse evangelho, a pobreza é um sinal do pecado. E quem quer pecar? Daí, muitos veem nesse evangelho uma forma de ascensão social, econômica e política. Por isso, a ideia de que Deus abençoa os líderes que o pregam. E Bolsonaro o prega. A tampa e o... Ou seja, Bolsonaro ganhou uma eleição pregando um deus de araque, que não está na Bíblia, mas que foi interpretado conforme os interesses do evangelho da prosperidade. Ele prega um deus de riquezas em contraposição a um Deus que prega a humildade. Enfim, com uma (impossível) vitória dele, esse evangelho podre seria o grande norte da nação, já que o Evangelho de Jesus Cristo prega a partilha (e partilha e capitalismo não se bicam). Por enquanto, está em grandes redutos. E somente a democracia será capaz de sufocá-lo, pois esse evangelho, aqui no Brasil, só vinga em governo golpista.
 
3. ESQUERDA E DIREITA SÃO MAIS QUE IDEOLOGIAS. SÃO DUAS CLASSES SOCIAIS. Você pode escolher seu time, sua religião, suas roupas, seu penteado e as cores da sua unha, mas ser de esquerda ou de direita, não. Está claro como nunca que a política não é uma arena para discutir a partilha dos bens do nosso país quando o presidente é da direita. Os políticos da direita defendem os grandes empresários, o mercado internacional, as multinacionais, a grande mídia, os fazendeiros, os ruralistas, as classes sociais altas. As outras camadas, os trabalhadores, pobres etc. são unicamente a mão de obra. A direita não abre mão do lucro para melhorar o país. Sabe quanto ela teria que gastar pagando todos os seus funcionários com nível superior? Pois é. Então nada de nível superior para os pobres, pois isso interfere nos lucros da direita. Para ser de direita, é preciso estar nas classes em que ela sempre esteve: nas de cima. Abaixo disso, você é de esquerda. Só trabalhador pode defender o trabalhador. Direita defende direita. A prova disso é que Bolsonaro destruiu a previdência, a reforma trabalhista, a educação, saúde, o meio ambiente e os direitos humanos como forma de pegar de volta o que foi conquistado pelos trabalhadores durante a década dos governos populares de Lula e Dilma. Pois bem, ocorre que muitos pobres e outros trabalhadores se declaram de direita. Tamanha é a incoerência, por exemplo, de um professor sufocado em uma escola pública declarar-se de direita. Escola pública não é frequentada por membros da direita. A deles é particular. A autodeclaração de um trabalhador como sendo da direita é mais um sonho de sê-lo, um desejo pessoal, uma vontade de se encontrar em castas superiores economicamente. É uma coisa de ego, não social. É tal como o bêbado, se bebe fica rico, se está sóbrio é pobre mesmo. É até coerente alguém da direita declarar-se da esquerda, por desejar que os outros também consigam ter melhoras em suas vidas, mas um de esquerda ser de direita não basta uma fala, andar com quem é de direita, postar, discursar nem dizer que optou por isso. Fatos são fatos. E mais: a esquerda não precisa se tornar rica, apenas ter o que lhe é de direito e lhe proporcione dignidade. A direita quer aumentar o que já tem de sobra. Talvez algumas pessoas de espírito raso se projetem nesses sonhos de influência americana para ostentar vidas superiores. Mas que cada um fique no seu quadrado. Afinal, vaca magra não engorda no grito.
 
4. O COMUNISMO NO BRASIL É UM ELEFANTE BRANCO. Geralmente quem ataca o comunismo nem sabe do que se trata. É como dizer que Lula é ladrão sem que ele tenha sequer um processo. O Brasil nunca teve comunismo e não há projeto para isso. Aqui o comunismo não vinga. Não vingou em nenhuma igreja, imagine na política. Aqui é o capitalismo mesmo, até que ele mesmo se destrua. Enquanto isso, ele nos destrói. Os que atacam o comunismo estão, na verdade, dizendo: “Eu quero trabalhar para os outros”. E segue a vida. Trabalho e mais trabalho e nada de melhorar a vida. No capitalismo, só há vagas para alguns. Nós só conseguimos alguma coisa do capitalismo quando quem governa é por nós. E só a esquerda é por nós. Cheguei a indagar uma vez a um grupo: “Levante a mão quem tem CERTEZA de ir para a universidade no ano quem”. Ninguém levantou. No capitalismo, quem não é capitalista não tem certeza de nada. Essas certezas de ter as coisas só funcionam para quem tem dinheiro: os ricos. Então, onde está o comunismo nisso tudo? Esse papo de que não vai votar no Lula porque ele vai instalar o comunismo aqui é discurso de pseudointelectualzinho. O discurso de moralzinha hipócrita de “Deus”, pátria e família do genocida colocou quantos pratos de comida na mesa dos brasileiros? Nem um. Quantos empregos foram gerados quando ele ladrou dizendo que deveríamos exterminar o comunismo inexistente? Nem um. Não me espantam os gritos bolsonaristas contra o comunismo, mas a ignorância de quem dormia em todas as aulas de história e agora pegou uma notinha barata para “argumentar” que não vota em comunista. 
 
5. A NOSSA BANDEIRA JÁ É VERMELHA. A nossa bandeira, roubada pelos incapazes de desenhar uma marca, realmente não será vermelha por conta do PT. Ela já carrega, graças ao desgoverno bolsonarista, o sangue dos brasileiros mortos na pandemia, na campanha de extermínio dos povos indígenas, na morte de líderes sem-terra, nos 33,1 milhões de famintos. Mais vermelha, impossível. Apenas um governo democrático para devolvê-la à cor original.
 
POR FIM: VOCÊ NÃO PRECISA AMAR O LULA PARA VOTAR NELE. SÓ PRECISA ENTENDER QUE ELE É A ÚNICA SAÍDA PARA A NÃO PERPETUAÇÃO DO DESASTRE EM QUE SE ENCONTRA A NOSSA DEMOCRACIA.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

E será um menino!



Por Mirinaldo

Hoje nascerá um menino. Um menino pobre. Não terá enxoval de bebê. Não terá lenços umedecidos. Não usará fraldas descartáveis. Não terá um pediatra. Não nascerá em hospital nem ao menos sob um teto de um barraco. Sua mãe não terá os acessórios de parto. Nem parteira. O menino não nascerá entre paredes. O menino não sentirá o aroma de um quarto perfumado, preparado só para ele. Será um miserável. Um indigente. Um marginal. Apenas um filho da mãe. A mãe dele. E nós estamos sabendo de tudo isso. E nós também vamos esquecer tudo isso. E, por esse menino ser rei, a nossa imaginação só nos conduzirá para a ideia que temos de um... rei! E o imaginaremos rico, forte, coroado, tronado, majestoso. Nossa miséria humana o verá como... rei. Um rei tal como os reis da terra. E eis a nossa fraqueza ante o menino: pensaremos que bastará adorar o rei para que sejamos agraciados por ele. E vamos, depois do dia 25, continuar a imaginar esse menino como um rei humano. E vamos imaginar a sua glória aqui mesmo na terra. Grande erro o nosso. E daí vamos personificar esse rei e projetá-lo nos falsos profetas. E vamos alimentar esses profetas com nosso trabalho. E viveremos a ilusão do evangelho. E tudo porque esquecemos quem era o menino. Que isso cesse. Não mais acreditemos nos reis da terra. Eles não existem. São uma ilusão da prosperidade. A pior personificação do Natal não é a do Papai Noel, é a dos falsos profetas. E dura será a nossa sina quando ignorarmos a visão de rei terreno e passarmos a seguir a trajetória do menino-rei que hoje nasce. Saberemos sofrer como ele? Saberemos o verdadeiro amor que ele ensina? Pensaremos como ele pensa? Seremos pobres como ele é? Continuaremos a nos inspirar nos reis da terra ou passaremos a perceber que o menino que nasce hoje tem rosto humano de pobre? Amaremos os pobres ou vamos seguir o evangelho dos ricos? Comemoraremos o Natal do Senhor ou o natal de um menino que se torna rico quando vira evangélico? Conheceremos o Evangelho ou apenas as pregações sobre ele? Enfim, seremos como esse eterno menino ou vamos crescer nos afastando dele?
Se é Natal, então eis a nossa grande chance!
Feliz dia do eterno menino do verdadeiro Evangelho!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Oro por ti, menina de trinta.



Por Mirinaldo

Que teus dias sejam longos como são teus leitos de rio e que sejam anos suaves como teus braços de igarapés. Abraçada por águas, vives em eternos banhos dados pelo teu Xingu. Graciosa e bela sob o sol que se exibe para ti durante todos os dias e, tímido, esconde-se por trás da Ponta da Serra todas as tardes, és o encanto diário que dilata nossas pupilas e nos faz orgulhosos de sermos teus amantes fiéis e agraciados por tua baila. Serena e bela sob a luz da invejosa lua, estás sempre a cantar de tantas formas e de tantos tons que nossas almas encontram o deleite certo ao som de tua música. Acolhes-nos com tuas mangueiras, com sombras e frutas doces, ao mesmo tempo em que nos apaixonas com tuas pixonas de histórias mil que inspiraram as tantas gerações a se multiplicarem e até hoje guardas o segredo de todas elas. Vive triste quem não conheceu tal doçura da vida. Foste cúmplice dos encontros fortuitos e afortunados da caixa d’água, de onde, se quedasse tarde, soltavas a loira da mangueira expulsando os amantes ávidos por mais tempo sob a escuridão conclamada pelo silencioso motor de luz. E clamavas pela Matinta-Pereira, pelo Pinto-Pelado. E quantas novelas deste aos teus a oportunidade de assistir na praça dos Benjamins onde, às dezoito horas em ponto, tocavas a Ave-Maria. E quantos bilhetes ardentes de paixão foram lidos pela voz de ferro do alto-falante que ali tocava e embalava os namoros dos alunos que não se continham nas salas ao ouvirem as músicas românticas em inglês. Todos lugares suspeitos e proibidos de viverem a personificação da fala humana. Que se calem para sempre! Tu, Vitória, liberaste teus filhos para os banhos de água de chuva sob fortes trovões e relâmpagos numa água lamacenta que corria pela avenida Manoel Félix de Farias e terminava na praça dos Benjamins. Moleques e molecas davam seus gritos de euforia e voltavam para casa realizados e sem gripe alguma. Quando houvesse um corte, merthiolate! Aí se conhecia o grito da gurizada. Ou quando tiniam os galhos de goiabeira casas adentro, também se sabia que uma aula estava sendo dada. E tu, Vitória, rias-te sem parar. Eras uma menina que corria para o igarapé do Gelo, do Facão, do Tira-Calcinha, do Jandiá, que corrias pelos caminhos que levavam para as ramagens e árvores ao redor da vila de pescadores e estivadores. Eras tu que saltavas da rampa da Reicon, da Prainha e do Tuba. Moça levada que tocava tambor com Calazão, que dançava na Caçulão, no Vadoca e na Barraca. Eras tu que te benzias dos ciúmes das moças com ramos e atravessavas o campo Padre João, à noite, para cursar o magistério. Querias ser professora! Eras tu, ainda moleca, que choraste tantas vezes sob o sino tocado pelo seu Manoel do PT anunciando uma ida ou também que te assanhavas ao ouvir o mesmo sino aos domingos para as missas. Deixavas o dominó com o Chico Rita, com Tenório e tantos outros e te tocavas ao banho apressado e ias, com vestido de chita e perfume de lavanda para ouvir o padre dar seu sermão. E a quantas procissões foste descalça sob a chuva de maio e rogaste por um namorado. É por ti, que agora trintaste, que oro todos os dias para que sigas firme teu trajeto de cidade e que busques a maturidade que teus trinta anos te ensinaram. Que tua beleza seja o teu verde lindo aclamado em nosso hino e tua história seja a fonte das letras dos poetas filhos teus. E que tuas ruas cresçam em vida, em luz e em forte esperança de que cada dia é sempre um dia para recomeçar a pensar numa nova história chamada Vitória, uma vitória que começa no Xingu, teu pai, e termina no coração de cada filho teu. Daí por que te chamo: Vitória do Xingu. E te felicito, hoje e sempre!

sábado, 20 de novembro de 2021

A verdadeira cor da consciência



Por Mirinaldo 

A cor da consciência, na verdade, não é uma cor. É um pensamento em ação. É defender o outro de acordo  com a necessidade dele. Defender o índio não por ser índio, mas porque ele precisa ter a sua dignidade e possa viver em excelentes condições humanas, inclusive com direito a um iPhone, afinal, ele é humano e iPhones só os humanos podem usar,  desde que possam pagar por ele (se o índio pode pagar, então pode ter um sem deixar de ser índio). Defender a mulher não por ser mulher, mas porque ela precisa da sua dignidade humana preservada e não ser vítima dos homens porque eles são... homens. Assim é a consciência negra: um pensamento-ação para que o negro tenha o direito de viver sendo plenamente uma
pessoa humana. Se algum direito lhe é violado, já é suficiente para que uma bandeira de luta seja travada. E assim são todos os dias vividos pelas minorias. A consciência negra não é sinônimo de "apenas os negros devem lutar", mas de "é uma culpa de todos e, portanto, uma responsabilidade de todos". E mais: não se defende o índio,  a mulher e os negros,  por exemplo, porque eles sejam santos,  como prega a demência bolsonarista, mas por questão de humildade necessária  (e, se quiser, de fraternidade cristã). Portanto, hoje é o dia de pensar a ação pautada na consciência da humanidade. E essa consciência também é negra.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Dia da Proclamação da Banana Brasileira




Por Mirinaldo

15 de novembro. Data para se comemorar o quê? Proclamação da República! A história aconteceu assim: os caras do Império estavam cansados daquele sistema em que eles não apareciam tanto. Tinham muita grana, mas muita mesmo, mas queriam ter visibilidade. Daí, com o apoio dos botas (eles de novo) deram um grito de proclamação parecido com aquele da diarreia de D. Pedro. Porém, agora, a mensagem era a seguinte: queremos uma república para reorganizar a distribuição do poder entre nós aqui de cima da pirâmide. O resto não muda nada: pobre que continue se lascando. Mas calma aí! Temos que pensar nos pobres, sim. E pensaram. E ficou assim: os pobres trabalham e passam a pensar que o Brasil se modernizou e que todos vão sair lucrando. Ok. Os caras lá de cima venderam a imagem de que não escravizavam mais os negros, de que não tinham mais vínculo com Portugal, de que engoliam as hóstias na igreja, de que não ficavam com as mulheres dos seus próximos, de que queriam um país desenvolvido, de que agora seria a tal da Ordem e Progresso (parecido com a broma “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” – KKKKK) e segue a baila da falsa inocência.  E rebatizaram seus nomes: não mais senhores de engenho, escravocratas, senhores feudais (esses caras vieram desde a Idade Média). Não. Santos do pau oco têm de usar novos nomes. D-I-R-E-I-T-A-! Isso mesmo. Seriam chamados de homens da direita. E fizeram a República da Banana Brasileira. Sim, uma república que hoje tem tudo para dar certo: as bancadas temáticas para garantir os interesses dos antigo escravistas, o uso da Bíblia para manipular a falsa crença secular do protestantismo europeu, uma classe média alta sedenta de ódio contra a classe baixa e uma classe baixa que aprendeu a se abaixar para carregar nas costas um ser lambuzado de dejetos da mais abjeta podridão da história que ora se repete no seu ciclo de ilusões da ascensão social prometida pelos que comem a banana, jogam a casca e ouvem os gritos lá de baixo da escala: Mito! Mito! Mito! Mito! Mito!

Feliz Dia da Banana!

terça-feira, 31 de agosto de 2021

CONVITE PARA O GOLPE DO DIA 7 DE SETEMBRO DE 2021



O excelentíssimo Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, convoca e/ou convida todos os cidadãos de bem, honrados e ilibados, cristãos devidamente batizados, retos e justos, sem pecado, sem dívidas, sem empréstimos, pagadores de dízimos, leitores assíduos da Bíblia e decoradores de versículos, da classe média alta, devidamente armados, com baixo ou zero interesse por cultura popular, baixo ou nenhum nível de leitura, replicadores de fake news, admiradores de Trump e inimigos sabe-se Deus do que (mas que chamam de comunismo) para o seguinte evento:

Nome do evento: GOLPE NA DEMOCRACIA.

Objetivo do evento: safar a cara do presidente da cadeia, já que, sem voto impresso, ele perderá a eleição para o cara malhado das pernas grossas e responderá pelos seus tantos crimes na pandemia, contra os índios, os homossexuais, as mulheres, as crianças com fome, os índios de novo, a floresta amazônica, o aumento do preço da gasolina e da carne principalmente, o estímulo ao uso de armas e não de máscaras, pela desvalorização da educação e do SUS, pelo endeusamento das forças armadas, pela perseguição aos direitos políticos, pelo discurso de ódio contra o elefante branco, por aprisionar um extraterrestre que sabe fraudar as urnas eletrônicas e por criar um cercadinho de onde blasfema contra o povo, a esquerda e manda beijinhos para defensores do nazifascismo.

Local: Qualquer rua (menos favela e bairros pobres, pois vai pegar mal no estrangeiro mostrar pessoas que precisam de governo e não tem governo); mas podem fazer montagens de fotos também de outras aglomerações.

Data: 7 de setembro, para dar um ar de que a classe média alta está sendo oprimida pelos pobres e pelo Supremo e, por isso, pede sua independência (calma, vou rir depois).

Pauta do evento: 
Aumento da gasolina de 7 para 15 reais até dezembro.
Aumento do óleo de cozinha para 25 reais.
Aumento do preço da carne para o patamar de 80 reais (até novembro).
Uma peruca para o Alexandre de Moraes (para o mesmo dia 7 de setembro).
Queimar mais a floresta amazônica até chegar ao cerrado (já começou, falta só apressar mais).
Mais picanha para o Exército.
Menos máscaras, mais covid-19.
Devolver as vacinas para os fabricantes.
Aglomerar mais para aumentar a pandemia.
Volta do AI-5 só para os esquerdistas; para os direitistas, escovão para lavar a estátua de Borba Gato.
Aumento da inflação (também já começou).
Aumento do desemprego (para ontem).
Deixar a covid-19 só para os esquerdistas.
Intensificar, mas dizer que não existe, o racismo, a homofobia, a xenofobia, a misoginia, o extermínio dos indígenas, fogo na floresta, garimpos ilegais, extração ilegal de madeira e de minérios.
Voltar a dita dura (porque alguma coisa do governo está muito mole).
Volta da tomada de três pinos.

Grama do Palácio do Planalto, 31 de agosto de 2021. 

Atenciosamente,
Capitão Cloroquina Impressa.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

PUTREFAÇÃO DA FALSA ALMA BRASILEIRA



Por Mirinaldo

Não é louco o momento que ora vivemos. O genocida não é louco. Malafaia, Valdemiro Santiago, Sérgio Reis, Edir Macedo, Silvio Santos, Roberto Jefferson, o SBT, a Record e Regina Duarte também não são loucos. Isso mesmo: N-Ã-O S-Ã-O L-O-U-C-O-S. Sei que isso parece sem sentido, ainda mais para mim que tento ser comunista e socialista a cada dia e ainda não consegui. Eu deveria atacar o genocida e toda sua escória, sua lama, sua saliva defecada, seu discurso atravessado, chamando-os de quê? De loucos! Não. Não são loucos. Poderia ainda chamar de loucura o fato de se querer dar um golpe em Brasília para tomar o poder, já que o povo, ao chegar às urnas, vai exortar o pandemonismo, lavar a alma e expulsar o sórdido da cadeira que nunca deveria ter sido dele. E que deve ser desinfetada. Também não há loucura no ataque feito diariamente pelo genocida às instituições que o investigam e o criticam, nem suas sandices para destruir a educação, a saúde, a Amazônia, os indígenas, a cultura popular, os negros, os gays; ou seu vômito verbal vociferado quando defende a família, Cristo, Deus e os valores da pátria. Muito menos eu vejo loucura no fato de o aloprado ser, disforme e inominável, sorrir ante a morte dos outros, zombar das dores alheias, difamar a pobreza e regozijar-se com o crescimento dela ou ainda quando nega a fome, a miséria, o preconceito, a desigualdade social, o aumento da inflação, a violência, o desemprego. Nem pensar em chamar de loucura o fato de o amante do fascismo provocar seu vômito verde ao salivar que quem está atacando a democracia é o judiciário e que a intervenção da doença militar seria a saída para ele continuar flatulando na cadeira presidencial por longos anos. Menos loucura é o rastejante declamar, ou melhor, expelir ar dos seus escuros pulmões, por vias frias e secas, ao dizer que o único problema do povo é a justiça que o impede de trabalhar. Nada disso é loucura. Nunca foi. Nunca poderá ser. Nossa, e ainda há quem chame o psicopata de louco quando afirma que o comunismo não pode voltar e que ele é a única via para impedir esse retorno de quem nunca partiu porque nunca chegou. E muitos desinformados ainda o classificam de louco quando ele fecha os olhos e começa a orar junto com meia dúzia de escrotos antes de executarem suas sandices contra o povo pobre e trabalhador. Basta. Chega. O genocida não é louco. O bolsonarismo não é uma loucura. Não! Não! Apontar arminha não é loucura. Alguns crentalhas e padrecos segurando armas com a Bíblia em uma das mãos não é loucura. Não é loucura? Não, não é. E do que se trata tudo isso que pode ser classificado como anticristianismo, discurso de ódio, ataque aos direitos humanos e à vida, fascismo, nazismo, satanismo, sadismo, morte? Hem? Diga! Simples, isso tudo em si mesmo não é loucura, o nome exato para toda essa lama é putrefação da falsa alma brasileira. Sim, o obscurantismo nefasto e sórdido que mora no interior de almas podres, em estado de latência, pronto para sair da putrefação e ocupar assentos nos púlpitos fingindo altos estados de glória e de sublimação. Sempre existiu, mas nossa razão e fé o mantiveram em cárcere secular. Mas razão e fé também tonteiam, sofrem lapsos e relaxam no campo da ilusão. É nesses trânsitos de desalinhamentos que os espaços se abrem para a entrada de espíritos apodrecidos, ausentes de toda dignidade humana. Geralmente avançam aqui e ali mas, no caso do Brasil, houve uma tomada que sobrepujou almas lentas e lhes imputou a doença da falsa pátria. Incrível, essas almas putrefatas nunca adentram os espaços sem antes exalarem odores de chumbo e de desolação, sempre fazem alaridos. Poderíamos ter percebido isso antes e as aprisionado nos seus submundos, onde Deus não põe seus pés e não deseja que para lá vamos. Mas não, ficamos atônitos, ou mesmo petrificados. Fomos tomados de insanidade e falta de memória histórica. Não vimos como deveríamos ter visto. Cegamos nossas almas também. E fomos, de repente, sobressaltados. Roubados. Privados de nossos sentidos. E vivemos o verdadeiro inferno entre essas almas putrefatas que não sentem dor alguma enquanto se deleitam sob seu sadismo em ver nossas carnes serem devoradas. Mais dor, mais tempo suportam. E mesmo com tantas delas sentindo a mesma dor, ainda preferem que assim o seja, pois a dor nos atinge. Por isso, vale o gás caro, a gasolina cara e os milhares de mortes em uma pandemia. E dizem que isso não acontece. Podres, almas não sentem dor. Por isso, o que ocorre no Brasil não é loucura, é a permissão que demos, muitos involuntariamente, para um insano, duro, sangrento e mortal período para as falsas almas brasileiras expelirem seus odores de subumanidade. Até o momento exato de as repugnarmos e as sufocarmos novamente sob o manto da ferida democracia, principal objeto de desejo para o seu ritual de destruição.

domingo, 13 de dezembro de 2020

Como nasceu Vitória



Por Mirinaldo 

E do amor do Xingu com a jovem Ponta da Serra, nasceu uma filha. Deram-lhe o nome de Vitória. Tal graça foi dada pois os seus pais tiveram que lutar contra a vontade da Cobra-Grande, que era contra a união dos dois. A severa rastejante preferia que a Serra se casasse com Porto de Moz, tanto que deixou até hoje a  jovem sob o domínio daquela cidade e, para isso, a bruxa das águas dorme eternamente no fundo do grande rio, vigiando-o para que nunca mais possa se encontrar com  a doce menina. Mas o igarapé do Gelo entrou na história e sugeriu os encontros secretos do Xingu com a Ponta da Serra. E o rapaz aceitou: estendeu um braço por entre a mata virgem, rasgando-a por dentro. Chamou-o Tucuruí, o rio escondido, o rio secreto, o cupido do amor desses dois seres. Enquanto a cobra dorme, vivem os eternos amantes a procriar seus inúmeros filhos. E que ninguém a acorde dali. Houve um tempo em que o rio tremeu e, por pouco, a fera não acordou. Graças à Baía de Souzel, o plano dos amantes não deu errado. Ela agitou-se severamente e exigiu do seu esposo, Senador José Porfírio, que tomasse a Praia do Meio de volta e deixasse o Vitsol por conta do rio secreto, ou a cobra acordaria e daria fim aos encontros à surdina dos dois apaixonados. Por isso o evento de verão saiu do Xingu e veio para o alcoviteiro Tucuruí, alojado na casa de sua amante, a Prainha. Mas voltemos ao momento anterior a tudo isso. Muito antes. Depois que a Cobra-Grande adormeceu, Ponta da Serra e Xingu trocaram o nome da filha para Vitória do Xingu. E fizeram isso porque um dia a grande cobra acordará e irá procurar a menina, fruto do amor proibido. Mas vai procurá-la pelo nome Vitória e esperamos que nunca ela entenda o plano e poupe nossa jovem da fúria dessa serpente de olhos de fogo. Mas o que fez a grande peçonhenta dormir? A Praia do Meio. A Praia desejou descobrir o que ocorria com o seu amor não correspondido, o Xingu. Ela veio com a intenção de devorar o Tucuruí, fechá-lo para sempre e manter o seu amante idealizado sendo sugado pelas suas areias e nunca mais ser amado pela Vitória do Xingu. Cobra-Grande entendeu que a grande areia era a supernoite eterna que a estava chamando para o sono secular. E tem dormido até hoje. A Praia do Meio não conseguiu adentrar para sufocar o Tucuruí, porque o Senador a chamou de volta. Mas a Praia rebelou-se e não voltou. E quanto à jovem Vitória do Xingu? (Vitória, para os íntimos). Vive protegida pelo Tucuruí, pelo igarapé do Gelo enquanto vê sua mãe, Ponta da Serra, levar o Sol todos os dias. Hoje é uma jovem de 29 anos. Já tem vários filhos e netos. Alguns ainda moram com ela. Outros aguardam o fim dessa história em algum lugar depois do Sol. Ah, já ia esquecendo: está grávida de novo! E isso acontece toda vez que a Praia do Meio seca, libera as águas do folgado Xingu e este vem se deitar com a princesinha.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Racismo: demência versus razão

Por Mirinaldo 

O Brasil vive a onda do NEGACIONISMO. Há queimadas na Amazônia e no Pantanal, mas elas não existem. Não há corrupção. As mulheres não são vítimas de violência nem de feminicídio, as que são assassinadas é porque procuraram a morte desafiando os homens que são mais fortes fisicamente. Os presos estão na cadeia porque escolheram o caminho do crime, ou seja, eles adoram estar nos presídios. As meninas engravidam porque querem ou porque usam roupas curtas. Os índios não deveriam ter terras, muito menos demarcadas, terras são para fazendeiros e grileiros. A covid-19 é só uma gripezinha. O problema do Brasil são os treze anos do PT, não os 503 anos da direita. E segue a manada. Mas a última foi a do racismo. Não existe racismo no Brasil, isso é coisa da esquerda querendo o poder. Não vou me ater sobre o que é esquerda, é uma aula longa, pode ficar para a próxima. Mas, por que se diz que o racismo é uma invenção da esquerda? Por dois motivos: o primeiro tem a ver com a falta de conhecimento de quem fala, ou seja, andam dizendo por aí, então vou replicar. É tipo eu perguntar qual foi o crime do Lula ou quanto ele roubou. Ninguém sabe, mas estão dizendo por aí, é onda, então vamos surfar. Isso ainda ocorre por conta do embalo da “não análise”, ou melhor, pensar requer esforço e politização, por isso muitos não se dão ao trabalho. Os que são considerados bons agora são os que reproduzem discursos de ódio sem interpretação, não é à toa que existem os robôs das fake News, aqueles que projetaram a imagem positiva de Bolsonaro nas eleições passadas. Você não está pensando que ele ganhou sem “mexer um dedinho”, está? Que bobinho! Ah, você entendeu a expressão “mexer um dedinho”, não entendeu? Voltando. O segundo motivo diz respeito a quem luta contra o racismo, não com quem o camufla. A direita tem mantido políticas que ludibriam o povo a pensar que somos uma miscigenação em plena harmonia. O que é falso, assim como a tolerância religiosa é outra mentalidade forjada. E essa ideia é vendida nas escolas, nas igrejas e no campo político da direita. O embate vem da esquerda. Por isso, os seguidores do bolsonarismo deflagram ataques e multiplicações de robôs para tratar o tema como uma tese criada e não como um assunto de cunho social, cultural e ideológico, ou seja, sócio-histórico. Alguns bolsonaristas trazem argumentos que tendem a levar a questão para o campo da violência social, aquela que sempre pôde esconder o tema racismo quando ele sempre foi abafado pelas elites políticas brancas: a direita. Por exemplo, há quem se identifique como negro e que não se vê vítima de racismo. Aí está um sério problema. Você se lembra da campanha sobre a violência contra a mulher? Pois é, lá estavam os argumentos que as vítimas costumam usar para não sofrerem retaliação: cair da escada, bater a cabeça no tanque, escorregar no tapete etc. Mesmo quem se diz imune ao racismo pode estar sob forte ataque dele, pois é a violência que pode ser considerada a mais sutil de todas, por ser praticada de maneira simbólica (segundo Pierre Bordiau), sem execução sumária ou agressão física. São desculpas e rodeios que podem ser dados para justificar uma negativa a quem é negro. Nem sempre se deve esperar um soco ou um Hadaka Jime. Nesse caso, o próprio negro pode nunca ter sabido se foi violentado ou não. Então, por que alguns se dizem negros e negam qualquer violência por conta disso? Porque estão procurando adequar seus discursos ao alinhamento político do momento: negacionismo. Nesse caso, tanto mulheres vítimas de violência quanto negros negacionistas têm em comum a prática de negar, porém, elas o fazem como defesa e eles, como promoção da ideia política em voga, portanto, o negacionismo delas é estrutural, enquanto o deles é circunstancial. Vejam as atrocidades defecadas pela boca do presidente da Fundação Palmares (que é negro). Nada melhor que colocar um negro para atacar os próprios negros e desmontar todas as políticas antirracistas, assim como é estratégico colocar um ministro do Meio Ambiente que permite o desmonte das políticas contra crimes ambientais. Não se trata só de negar, mas de atacar as classes desfavorecidas enquanto há um embate ideológico no campo midiático. E a boiada vai passando. Outros ainda colocam situações envolvendo a prática de violência de negros contra brancos, como forma também de não institucionalizar o racismo. Mas é outro equívoco. Como? Em primeiro lugar, a violência é um assunto, não um tema. Então estamos tratando de uma concepção generalizante, mas que se desdobra em seus temas: violência infantil, doméstica, contra a mulher, intolerância religiosa, racismo etc. Negros são seres humanos sujeitos ao seu meio e à sua história. Ponto. Também cometem crimes, sentem ganância e estão submetidos às mesmas influências dos fatores sociais. Nesse caso, por que considerar o racismo em específico? Trata-se da comparação da violência que os negros sofrem em relação às outras violências. Então poderíamos dizer que os negros são melhores que as mulheres e as crianças? Não. Trata-se de analisar quem sofre todas as violências supracitadas (mais as outras) em relação aos outros grupos. Resultado: os negros. Ou seja, numericamente são eles os desfavorecidos em todas as áreas (segurança, educação, saúde, emprego, saneamento, direitos trabalhistas, salários etc.). Nesse caso, podemos dizer, sim, com absoluta certeza, que todos sofrem as mesmas violências que os negros, mas não na mesma proporção. É certo que o ideal é eliminar toda violência, mas quando considerar uma violência como racismo? Só o ato em si não basta, e é aí que os argumentos do “fascisbolsonarismo” estão viciados de erros. Eles só consideram a cena. Mas a cena de violência pode ser igual a de um branco sofrendo espancamento por negros ou por outros brancos, ou de negros agredindo outros negros. São fatores além do que vimos que nos permitem ver a manifestação do racismo. São as repetições frequentes de atos violentos contra os negros, são as situações histórico-sociais de suas vivências em sociedades desfavorecidas, são os estereótipos que lhes são atribuídos pelos brancos e pelas religiões da direita, são as ações políticas que se desviam das comunidades negras, são os resquícios da visão de superioridade da raça branca que ficaram do período escravista, são as atribuições de humanidade aos brancos como cristãos e aos negros como anticristãos, é a violência gratuita praticada contra os negros, são as práticas de segregação nos mais variados ambientes possíveis, são os números de negros fora das escolas e das universidades, são os presídios lotados de negros em desproporção aos brancos, são as baixas habilidades e capacidades de analisar fatores impulsionantes por razões do fracasso escolar da nossa sociedade pouco letrada, são fatores culturais arraigados na sociedade etnocêntrica branca, é o desconhecimento dos processos de colonização do Brasil, é a visão idealizada e estereotipada de qual seria a classe dominante (em que não se inclui o negro), é a concepção de que os negros devem ocupar cargos desprestigiados (já que só se imagina que eles vieram da escravidão), é a concepção rija de que a raça determina o homem (daí escolheu-se a negra como a inferior e marcar os que descendem na escala social), é a visão do cristianismo capitalista que maquiou Jesus como um ser branco (levando a crer que ele pertence ao continente europeu e que está aqui representado pela elite branca), etc., etc. e etc. O “fascisbolsonarismo”  só leva o seu rebanho a “pensar” em questões taxativas: é só mais um ato violento. Não, sem análise, sem escola, sem princípios do verdadeiro cristianismo é isso, mas é o contrário que nos permite entender e compreender o problema sob a ótica da sua real natureza e não dos pontos de vista copiados dos outros. Há que se lutar, sim, todos os dias, contra qualquer forma de truculência, pois aqui não se está buscando eliminar o racismo ou que ele se equipare às estatísticas das outras violências para fazer a sociedade parecer justa e igualitária. Se existirá um momento em que se poderá confirmar que a violência tal deixou de existir, não importa se o racismo seja a última da lista, mas importa que ele existe, está aqui, branco ou preto, azul ou amarelo. O que se possa ver fora desse âmbito, é demência. E, para eliminar a demência sob essa visão estrábica, nada melhor que eliminar o poder do demente. Pois a demência é a pior forma de racismo. E ainda vai buscar legitimar a morte dos negros até que o “fascisbolsonarismo” despenque e se restaure a ordem democrática legítima e soberana. Afinal, de alguma forma, todas as ações e discursos do mal foram personificados num ser. Derrube esse ser e o discurso do ódio será desinstitucionalizado.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Aulas on-line: a grande farsa

Por Mirinaldo

As aulas nunca deveriam ser on-line. Mas o são por conta de um fator muito maior: a pandemia. Mas o problema que nos trouxe até aqui não foi a covid-19. Assim como ainda não há vacina para o coronavírus, também não há instrumentalização para os docentes e muito menos para os alunos para que adotem as aulas on-line como continuação segura dos estudos. O sucateamento das escolas no seu tema tecnologias e educação cresceu mais que os matos ao redor das salas. Vivemos numa floresta obscura de ignorância. Toda estupidez aflorou e jorra seu néctar salivado de doenças da falta de inteligência. É o momento dos estúpidos! E eles pretendem ultrapassar 2022.
Há um projeto de venda da educação elaborado por parte da direita brasileira, de acordo com a cartilha norte-americana. Ela teria feito isso no embalo das privatizações antes de 2002. Para alcançar tal meta, assim como se está fazendo com o Pré-Sal, Amazônia e os Correios, deixa-se apodrecer a educação. Fétida, vende-se. O mundo corre para as inovações tecnológicas e as associa ao ensino (não à educação!), e ninguém pode ficar para trás. Mas fica. O Brasil ficou. Vai a passos lentos. As tecnologias da nossa área avançam, mas precisam de recursos para serem implementadas. E, para terem os recursos, precisam da política. E a política é dos poderosos. E eles querem dinheiro. A educação popular não é e nunca foi a mesma educação da elite política. Para nós (povo de verdade, com fundamento cristão, inclusive), educação é prática libertadora; para a elite, é lucro. 
O modo como fomos conduzidos às aulas remotas revela toda a ignorância dos políticos. Mas a ignorância maior é a nossa, pois a educação libertadora nunca existiu nessas terras tupiniquins. Só nos servimos da educação doméstica, de gado. Sem formação alguma e com quase zero recurso nas escolas para também preparar os alunos. Mas mesmo preparando-os, isso não resolve a sua condição de acesso aos bens de facilitação do ensino, então de um jeito ou de outro chegaríamos a esse maldito lugar pelo mesmo caminho. Sim, pois, se todas as escolas fossem equipadas, mas a maioria dos alunos ainda vivendo em condições de negligência do acesso aos serviços de internet, o lugar seria este aqui mesmo: descaso.
E agora, o que temos? Aulas on-line!
Um sinônimo de trapalhadas, desconhecimento, aquisições aleatórias de insumos e técnicas, professores e alunos em total descompasso, professores intimidados pela falta de domínio das tecnologias, alunos que descobriram que – de internet – só sabem mesmo baixar joguinhos, pais vendo seus dados móveis sumirem e seus filhos sabendo igual ou menos do que antes, falta de manejo com digitações simples, criação de grupos de cola, copia e cola do Google, trabalhos mal formatados, horários descumpridos, tempos de aula relativos, cobrança de resultados apostando na bondade e submissão do professor de se virar sozinho, imagens de professores heróis enviando vídeos para alunos dentro da floresta, alunos que não aprendem, meia dúzia de favorecidos socialmente com internet e celular para se manter em dia com as atividades e a maioria esmagadora sendo a excluída dentro de uma camada já também excluída (mas sazonalmente excludente). E não param por aí os problemas. Tudo maquiagem. 
Não que não devesse haver as aulas on-line nesse período complicado. Mas o caos já foi planejado lá atrás. Essa bravata toda não veio do acaso. Há a intenção de demonstrar à estúpida sociedade negacionista que a educação, sob o patronato público, não funciona, não deu nem conta de se equilibrar remotamente, não sabe lidar com tecnologia. E essa sociedade cristã de araque vai acreditar que nós temos tecnologia!
Prato perfeito para o abocanhado capitalista privatizante, neofascista, autoritário, ou seja, bolsonarista. Vender! E se, de repente, a esquerda volta ao poder (como voltou na Bolívia!) e permite uma agenda de educação emancipatória? Claro que isso seria o fim da direita que só voltaria ao poder se implementasse mais um golpe como o fez em 2016. A educação precisa passar de vez para o controle financeiro e despregar-se da ideologia da libertação. É uma defesa da direita. A educação militar faz parte desse processo. Oferece um ensino de cadeira, conteudista e subserviente ao Estado. Você acha que o governo de milicianos apoiou o Programa Escola Sem Partido por quê? Deixe de ser ingênuo! É parte da retirada do pensamento filosófico da educação para a implementação de uma educação sob a égide do falso cristianismo oferecido pelas religiões da direita, que bebem na mesma fonte do nazismo, fascismo, capitalismo e totalitarismo.
Esse penoso trabalho chamado aulas on-line pode ser o calcanhar de Aquiles de mais uma derrocada da educação. E deve persistir nas nossas casas, pois é de se fingir que se resolvem as coisas que o Brasil vive. Cumpramos o conteúdo que está só na nossa cabeça e mostremos à sociedade e ao governo antivacina e genocida que nós trabalhamos, sim. Estamos dando aula! Um dia a gente forma. Não nos esqueçamos das fotos com os alunos diante dos cadernos e com os uniformes das escolas (são provas cabais de que estão teatralizando o estudo dentro de casa e, inclusive, nos obedecendo!). Também não nos esqueçamos de recolher a frequência mandando que eles digitem os nomes (se é que são eles que estão com o celular) no início ou no final da aula. Também não nos esqueçamos de fazer os pais assinarem o termo de responsabilidade, obrigando-se a dizer que agora eles são pais de verdade e que estarão em casa vendo os filhos com uma puta de uma raiva da Globo que convenceu os brasileiros a ficarem em casa e que o presidente é que estava certo sobre a flexibilização que, segundo ele, mataria só os velhos (pô, aturar esses meninos esse tempo todo!?). 
E não nos esqueçamos de que podemos estar nos tornando bons atores da mediocridade e péssimos na construção da educação libertadora de verdade. Já falhamos uma vez. É muito arriscado errar de novo.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Suicídio espiritual

Por Mirinaldo 

Eu acrescentaria:
11. Falar de Deus, mas curvar-se ao nazifascismo; 12. “Pregar” a fraternidade, mas opor-se ao comunismo e tratá-lo como crime só para ficar do lado dos poderosos; 13. Ajoelhar-se nas orações, mas fazer o mesmo diante dos genocidas; 14. “Pregar” a partilha, mas defender a propriedade, o capital e a ascensão social; 15. Interpretar a Bíblia de acordo com os valores da direita e das classes dominantes; 16. Falar por aí do Evangelho, mas viver o “evangelho da conveniência”; 17. Dizer-se seguidor de Cristo, mas viver dominado pelos políticos, poderosos e pelo dinheiro; 18. “Pregar” sobre o paraíso, mas defender as queimadas consentidas pelo seu grupo político; 19. “Pregar” a simplicidade, mas lutar todos os dias para ser rico ou andar ao lado dos afortunados; 20 “Pregar” a boa política e constituir bancadas cristãs, mas votar contra o trabalhador, os pobres, os negros, os gays, os índios, as mulheres e os miseráveis; 21. Falar do Reino de Deus, mas buscar todos os dias as melhores posições sociais e políticas; 22. Falar do perdão, mas condenar os que não fazem parte da sua religião; 23. Dizer-se puro por andar com a Bíblia, mas subjugar os fracos e oprimidos culpando-os pela situação em que vivem; 24. Falar do amor cristão, mas classificar o próximo como “inimigo” que persegue sua vida e que deve ser condenado, fazendo o papel de Deus; 25. Falar que dá a vida em nome de Jesus, mas abandonar os aflitos na primeira ocasião para poupar a própria vida; 26. Dizer por aí que vive a paz de Cristo, mas sentir inveja, ódio e perseguir os outros por questões políticas e religiosas.

Enfim: IGNORAR O VERDADEIRO EVANGELHO E VIVER O FALSO.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Vamos assistir a esse filme?

 


Por Mirinaldo

O governo Bozo fez um corte bilionário na educação. Para quem não perdeu seu voto, isso não é novidade. Mas é assustador mesmo assim. O ditador divulgou a premissa de priorizar a educação básica, mas ela foi atingida em cheio: corte de 2,4 bilhões de reais. Não perderei meu tempo com os acéfalos que comemoram a ideia do quanto pior melhor, pois não sabem o que é melhor nem o que é pior e muito menos são capazes de dimensionar um problema dessa magnitude, afinal, a educação não faz falta aos que nasceram unicamente com instintos e um título de eleitor na mão. Vamos ao que se quer com esse golpe. Há três questões em jogo.

A primeira diz respeito ao que a direita esquizofrênica chama de limpeza ideológica. Em bom português: eliminar o elefante branco da sala. Eu estava brincando: é eliminar o fantasma que assombra o palácio: o socialismo. Detalhe: sem socialismo. A falta justamente de uma educação mais protagonista (temos aí me culpa) levou muitos zeros pensantes a conceber a existência do comunismo e do socialismo no Brasil sem conhecimento de causa, mas o que tem causado um espírito alucinógeno de pseudointelectualismo. Ou seja, quem disser que o PT, o PSOL, o socialismo e o comunismo acabaram com o Brasil está devidamente diplomado. Não entrarei no mérito de discorrer sobre o que é socialismo e comunismo (em outro momento, prometo) e brincar de verdade-desafio sobre o tema. Oxalá tivéssemos um socialismo ou um comunismo (este, que fosse de base cristã de verdade!). Falo sério mesmo! E sem esse diploma de Bozoburrologia. O ataque do ditador às universidades, segundo ele, se justifica pelo fato de essas instituições promoverem o pensamento crítico, reflexivo, científico e filosófico. Tô brincando, ele não falou assim. Ele disse que quer expulsar o pensamento de esquerda. Coisa de quem se aposentou cedo demais, ganha bem e não tem dedicação a estudo algum. Na verdade, esse discurso é a balinha da eleição, lembra que os caras distribuíam balinha para as crianças e elas viam tudo doce? Pois é, enquanto a gente fica bancando o sabidão da direita sobre como se cospe em discurso socialista, o plano segue  adiante. Vamos assistir a esse filme?

Vamos à segunda questão. Ok, enquanto segue o filme dos “Caça-socialistas” (Você se lembra dos Caça-fantasmas?), a segunda questão diz exatamente respeito à falta de projeto do Bozo para a educação do país. Mostre um. Mostre meio. Não, deixe, não perca seu tempo. Não existe projeto do (des)governo para uma caneta sequer. Quando, numa ditadura fria, como a que estamos vivendo agora, o ditador é inerte e despreparado, a ação truculenta é a única saída para ele mostrar que está lá no poder. Mas somente consegue mostrar isso. Não permite ser questionado, contrariado, então despeja seus desmandos como marca de que há um governo ali. Fora isso, teria que ficar como alguém disse certa vez: Se ele não roubar, já vai valer a pena. Nossa, um ladrão parado! A pena do salário mínimo, a pena do desemprego, a pena da submissão aos EUA, a pena da homofobia, a pena da arrogância e vai se soltando a pena por aí. Mas há um detalhe: esta segunda questão ainda não é a finalidade, assim como a primeira, a de caçar socialista alienígena. A primeira e a segunda questão são a parte do palco, são meios. Lá nos bastidores está a real finalidade: privatizar a educação. Bom, vou parar o meu texto. Daí pra frente a questão é a seguinte: se os diplomados no Bozonarismo têm, além de retórica primata, uma boa poupança, então comecem a comemorar. Mas primeiro olhem a poupança! Eu disse a poupança! Porque quando a coisa for realmente implantada, não vai haver bolsa discriminando quem assistiu ao filme “Os Caça-socialistas” nem para quem estava atuando nele. Por isso, todo discurso deve ter uma reserva. Toda atitude, uma ressalva. E todo bolsomínio, uma poupança. Porque quando a educação for de vez para o bolso dos capitalistas, então eu quero ver quem vai nos emprestar uma graninha. O Queiroz eu sei que não é.